Abertura Nacional do Plantio da Soja: vale antecipar as vendas antes das eleições?

O analista de mercado Alexandre Mendonça de Barros mostra o que deve ser levado em conta neste momento, como o impacto da tabela dos fretes, os resultados da safra americana e os desdobramentos da guerra comercial entre EUA e China 

Daniel Popov, de São Paulo
A safra 2018/2019 de soja foi aberta oficialmente no Brasil nesta segunda-feira, dia 17, em evento realizado em Terenos, Mato Grosso do Sul. Como é de costume, o Projeto Soja Brasil listou os principais desafios para a temporada – o principal alerta fica para a comercialização e custos de produção, que devem trazer dor de cabeça aos produtores. Para um dos principais palestrantes do evento, o analista de mercado Alexandre Mendonça de Barros, fatores políticos, econômicos e legislativos, como a nova tabela do frete, podem afetar gravemente a rentabilidade do setor. O evento também abordou a possível proibição do glifosato e novas biotecnologias.

Antes de as palestras começarem durante a Abertura Nacional do Plantio da Soja, as lideranças do setor saudaram a presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), deputada federal Tereza Cristina, presente no encontro. “Esse grande evento, que marca a abertura do plantio, é a demonstração da importância deste setor ao país. Também parabenizo a Aprosoja, que faz um belo trabalho para a agricultura e fico orgulhosa de ter uma entidade como essa para nos dar suporte. Uma safra excelente para todos”, diz ela.

Cenário atual para os brasileiros

Durante a palestra “Perspectivas do mercado da soja, cenário político e macroeconômico”, Mendonça de Barros já abriu falando que existem pontos de incertezas na parte econômica desta safra, começando pela guerra comercial entre China e Estados Unidos. “O conflito ninguém sabe até onde vai dar. O embate mudou o modo como a soja é precificada no mundo, com queda forte das cotações na Bolsa de Chicago e a elevação dos prêmios no Brasil”, diz ele.

Os prêmios, aliás, atingiram o maior patamar da história, afirma o analista. Entretanto, se por um lado eles são bons para remunerar melhor os agricultores, eles dificultam o interesse dos compradores.

Há também um problema relacionado aos prêmios futuros negociados nos portos: eles não estão seguindo as elevações atuais, já que ninguém sabe se em março, na época da colheita no Brasil, o conflito entre chineses e norte-americanos continuará.

“Os prêmios futuros negociados nos portos não estão nos mesmos patamares dos atuais, eles estão cotados como se não existisse a guerra entre os dois países. Se juntar isso às cotações em baixa na Bolsa, não vale a pena negociar futuro no porto. Por essa e outras razões que falo para os produtores abrirem os olhos e ficarem atentos à comercialização”, conta Mendonça de Barros.

Alexandre Mendonça de Barros, da MB Consultoria

Para ajudar os produtores na tarefa de se preparar para a safra, o analista separou alguns pontos importantes que merecem reflexão:

Guerra comercial: “se ela recuar, o preço vai subir na Bolsa de Chicago e o prêmio vai cair no Brasil. Por isso há uma certa desconfiança que é perigoso travar o prêmio futuro sem essa definição”;

Tabela do frete: “essa é uma situação absurda, um caminho lamentável tomado pelo governo brasileiro, que distorce os preços, ainda mais em um raio acima de 500 km dos portos, os preços novos estão muito acima dos normais do mercado. Quem quer fixar o preço futuro da soja tem que colocar a tabela como referência, porque pode gerar custos muitos elevados, caso seja considerada constitucional no futuro. Com isso ninguém quer vender e os negócios não acontecem”;

Eleições no Brasil: “o país está com forte endividamento e todo mundo está esperando para saber se o próximo presidente eleito será reformista ou fará políticas populistas”.

O presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz, aproveitou o momento para pedir aos produtores mais atenção na votação deste ano. “Nós queremos nos próximos dias convocar os produtores do Brasil a terem responsabilidade na hora de votar, conhecendo as propostas dos candidatos, buscando pessoas que têm planos para a agricultura. Temos que nos unir para mostrar a importância desse processo produtivo para o país”, diz.

Antecipar ou não as vendas da soja?

Para Mendonça de Barros, o Brasil iniciará esta safra com menos vendas antecipadas do que o normal, já que os custos estão bastante elevados e, na hora de vender, o dólar pode atrapalhar a vida dos brasileiros. “O real saiu de um patamar de R$ 3,20 e foi para um de R$ 4,20. Nesta safra será difícil dizer qual será a rentabilidade do produtor. Ela pode ser muito boa lá em março se, na hora de vender, o dólar seguir elevado. Mas se cair, será pior”, afirma.

Com isso, o analista diz que é arriscado fazer muitos negócios antecipadamente neste ano. Para ele, a colheita americana será grande mesmo e não dá para saber se o presidente americano, Donald Trump, recuará e fará um acordo com a China.

“Fazer trocas é uma das melhores alternativas para esta safra, ainda mais com esse cenário de incertezas cambiais. É complicado generalizar e dizer o que todos devem fazer, o produtor deve avaliar a sua situação e entender se o que vou dizer se encaixa em seu perfil. Num ambiente de tantas incertezas, a troca é uma das ferramentas mais adequadas, pelo menos daquela parcela dolarizada dos custos”, afirma Mendonça de Barros

 

 

Máquinas em campo

Mesmo antes do amanhecer do dia em Terenos (MS), apesar de fraca, a chuva já era contínua e assim seguiu durante todo o evento na manhã desta segunda-feira, dia 17. Com isso, o famoso comboio de plantadeiras da Massey Ferguson, que abriria simbolicamente a semeadura da oleaginosa, não aconteceu, até para evitar a compactação do solo.

Mas nenhum produtor presente lamentou o fato, afinal as chuvas são bem-vindas neste momento. O próprio presidente da Aprosoja Brasil, Bartolomeu Braz, fez questão de ressaltar isso. “Essa chuva veio abençoar o plantio da soja em todo o Brasil. Que não falte água para as plantas e disposição aos produtores. Boa safra”, diz.

Assista na íntegra abaixo:

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