Antracnose resistente a defensivos assusta produtores de soja

Segundo pesquisadora e especialista no estudo da doença, um novo tipo de antracnose surgiu e está destruindo algumas lavouras

André Anelli, de Goiatins (TO)
Um novo tipo de antracnose, mais resistente a defensivos está assustando produtores de soja do Tocantins. Segundo a pesquisadora que a descobriu, a novo tipo da doença já foi relatada nos estados do Nordeste e também em Mato Grosso.

Para tentar descobrir qual a variedade de soja que melhor se adapta ao clima e solo do município de Goiatins, no nordeste de Tocantins, a Família Munaretto, resolver semear 49 cultivares diferentes, em uma área de 10 hectares.

“Tivemos necessidade de montar faixas demonstrativas e experimentais de vários cultivares. Estamos no 5º ano fazendo isso, para analisar os resultados e passar para a propriedade”, destaca o sócio-proprietário da fazenda, Ivair Reolon.

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Todas as variedades experimentais foram testadas com mesmas condições de manejo de solo, aplicação de defensivos e fertilizantes e dessecação. Na última safra, as produtividades variaram mais de 30%, com cultivares que atingiram 75 sacas por hectare e outras que não chegaram a 50 sacas. Estes resultados foram apresentados durante um dia de campo, que reuniu técnicos e produtores, na fazenda.

Apesar do grande número de cultivares de soja, todas elas têm um problema em comum: são vulneráveis ao ataque da antracnose. Pesquisadores já relataram um novo tipo da doença, atacando lavouras de do Tocantins e Mato Grosso.

A antracnose vem de um fungo, que impede o desenvolvimento da soja nas vagens. A nova forma da doença, ainda mais resistente aos agroquímicos, age da mesma maneira e não é possível saber qual tipo de antracnose está atacando, a não ser por laboratório. A descoberta foi da professora Moab Diany Dias, da Universidade Federal do Tocantins.

“Foram quatro anos de pesquisa em que fizemos um levantamento de antracnose no Brasil e na Argentina. Na planta em que isolei esse patógeno, causou lesões profundas e a planta chegou a morrer completamente. Também fizemos experimentos em vagens e essas lesões foram bem evidentes, caracterizando a agressividade desse patógeno”, relata Moab.

Ainda não existe tratamento totalmente eficaz contra a antracnose. Mas, durante as palestras do dia de campo, o especialista João Paulo Cunha, professor da Universidade de Uberlândia, disse que é possível dificultar o aparecimento do fungo, que é atraído por calor e umidade.

“É muito difícil fazer o controle de uma soja com muito desenvolvimento e muito enfolhada. O que a gente busca é um tratamento preventivo, um acompanhamento com a soja mais aberta, com tecnologia de aplicação mais adequada, isto é, com boa preparação da cauda, com bons adjuvantes para garantir que o produto, a partir do momento que sai do bico de pulverização, chegue corretamente na planta de soja”, diz Cunha.

Mesmo na forma menos resistente, a antracnose é uma das principais responsáveis por perda de produção nas lavouras. Este agricultor diz que os gastos para combate da doença têm aumentado o custo de produção por hectare. “Hoje, acho que a gente está gastando de quatro,a cinco sacas de fungicida para controle, não só de antracnose, mas outras doenças, como mancha alfa, ferrugem, mas o principal é antracnose”, conta o produtor Éverton Munaretto.

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