Armazém de sementes é investimento com retorno certo

Conheça as vantagens de montar uma área controlada para estocar o principal insumo das lavouras e o tempo para recuperar o aporte

Daniel Popov, de São Paulo
A construção de galpões com refrigeração e nível adequado de umidade para armazenamento de sementes, tem se tornado uma tendência entre produtores do Centro-Oeste nos últimos meses. As vantagens vão desde a economia de dinheiro, gasto com compras desnecessárias, até um rendimento maior no campo. Além disso, é possível recuperar o valor investido em apenas uma safra.

Muitos pesquisadores e estudiosos vêm dizendo insistentemente nos últimos tempos que apesar dos avanços tecnológicos na agricultura e sua disponibilidade para o produtor, o mau uso destes recursos não tem trazido um retorno expressivo e efetivo na produtividade, que está estagnada há 15 anos. Um bom exemplo disso pode ser visto com as sementes, que apesar de apresentarem resultados fantásticos em campos experimentais, quando usadas em grande escala não repetem a performance entusiasmante. A culpa não é do produtor de sementes, nem das revendedoras, mas sim do processo de transporte e armazenamento, garantem especialistas no setor.

Segundo o pesquisador da Embrapa Soja, Francisco Krzyzanoski, o produtor de sementes colhe e armazena seu produto adequadamente, o transporta em caminhões refrigerados até as revendedoras, conhecidas como sementeiras, que também os guardam em galpões com temperaturas e umidade controladas, garantindo assim todo o desempenho tecnológico introduzido naquela semente. “Os grandes produtores, aqueles com mais de 50 mil hectares, também transportam suas sementes com caminhões refrigerados e possuem armazéns para reservar corretamente as sementes até o momento do plantio”, conta Krzyzanoski.

Já os agricultores com áreas menores que os “mega produtores”, sofrem a cada temporada. Tanto para conseguir os melhores lotes de sementes, de determinada cultivar, quanto para obter o transporte destas sementes, na época certa, para garantir que o tempo de armazenamento seja o menor possível, evitando ainda mais perdas “Dependendo da distancia de entrega, se superar os cinco dias de transporte as perdas com germinações podem superar a casa dos 30%”, afirma o pesquisador. “Sem armazenagem então, qualquer atraso no planto se transforma em um desastre certo.”

Depois de uma safra 2015/2016 ruim, no qual as produtividades de soja ficaram aquém do esperado o produtor rural Mário Forlin, dono da fazenda Barra Grande, em Confresa (MT) resolveu pesquisar as vantagens de possuir um armazém frio e seco de sementes. “Na parte da manhã fui conhecer e entender como funcionava tudo, fiquei tão impressionado que na parte da tarde já havia fechado a instalação de um galpão em minha propriedade”, relembra ele.

O investimento total foi na casa dos R$ 400 mil e o retorno do investimento não deve demorar muito segundo as contas de Forlin. Se em sua área de cinco mil hectares, o armazenamento correto lhe gerar uma produtividade média de 1 saca e meia de soja, considerando um valor de R$ 60 por saca, o montante obtido chegaria a R$ 450 mil. “Essa é uma conta conservadora, espero colher pelo menos 3 sacas a mais logo no começo”, conta ele.

Além disso, o produtor que já é reconhecido por levar a sério todas as indicações agronômicas em sua área, com a integração lavoura-pecuária e rotatividade de culturas, pretende obter parceria para receber suas sementes com caminhões refrigerados. “Minha meta é produzir mais de 70 sacas de soja em média por hectare”, garante Forlin. “Muitos vizinhos já vieram ver meu armazém, gostaram do que viram e estão montando um em suas propriedades. Isso é um caminho sem volta.”

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Essa tendência foi confirmada pela empresa Conela, especializada em refrigeração, mas que possui parceiros para projetos completos de armazéns climatizados. Segundo o diretor comercial, Nelson Millani, nos últimos dois meses a empresa recebeu muitas consultas de produtores rurais com até 10 mil hectares para implementação destes galpões. “Isso é uma novidade para nós também, normalmente só sementeiros e mega produtores nos procuravam”, afirma ele. “Depois disso, criamos projetos específicos para este perfil.”

Segundo ele, o principal cuidado é para que suas câmaras tenham as mesmas especificações recomendadas pela Embrapa e por empresas detentoras de tecnologias, garantindo assim resultados melhores para seus clientes. “Constatamos que o pequeno agricultor, em sua maioria, ainda não tem o esclarecimento necessário para armazenagem, pois as consultas são, quase sempre, para condições inadequadas de temperatura e umidade, uma vez que a Embrapa recomenda temperatura entre 10 e 12 graus e umidade relativa entre 50 e 60%”, diz Milani.

Essas características foram confirmadas pelo pesquisador da Embrapa, que garante que as sementes armazenadas com a temperatura e umidade adequada são capazes de resistir um ano sem germinação ou perdas significativas de vigor. “Aqui na Embrapa temos sementes estocadas há seis anos, com a mesma qualidade. A diferença é o ajuste na temperatura e na umidade relativa que são um pouco diferentes do recomendado ao produtor”, frisa Krzyzanoski.