Atraso na semeadura é destaque na Abertura Nacional do Plantio da Soja

Durante o evento palestrantes e autoridades reforçaram o pedido para que os produtores tenham paciência para iniciar o plantio só após o retorno das chuvas

Daniel Popov, de São Paulo
O clima era de festa, mas também de preocupação, durante a Abertura Nacional do Plantio da Soja 2017/2018. Evento que marca o início da safra da oleaginosa no país aconteceu no município de Goioerê (PR), neste dia 15 de setembro, e contou com a presença de importantes nomes do setor. As palestras destacaram a importância de o produtor brasileiro priorizar a soja, que é a principal safra do ano, e não iniciar seu plantio enquanto as chuvas não vierem.

A soja ainda é a commodity agrícola que melhor remunera o produtor brasileiro e por isso sua área plantada deve crescer no Brasil apontam especialistas do setor. A produção, a exemplo do que acontece nos Estados Unidos, também deve ser grande fazendo com que a oferta do grão seja abundante no mundo. Com isso, os preços da commodity não se elevam e o câmbio desfavorável impede que o mercado interno brasileiro remunere melhor.

Além desta dificuldade em comercializar os grãos, os agricultores terão que enfrentar uma forte estiagem, que assola o país neste inicio de temporada, para dar largada na safra 2017/2018. “O produtor precisa definir prioridades: a soja ou o milho. Sabemos que ele planta as duas culturas em sucessão e vai continuar a fazer isso. Mas, com este atraso nas chuvas, se tentar antecipar a semeadura da soja pode colocar tudo em risco. O ideal é esperar para dar chance de a soja germinar bem, pois tudo indica que vai faltar água também na fase de desenvolvimento da planta”, diz Paulo Etchichury, diretor da empresa Somar Meteorologia.

Ele explica que todas as regiões brasileiras terão atrasos nas chuvas este ano e que mesmo depois, na fase de desenvolvimento das plantas, em novembro e dezembro, muitas regiões ainda poderão registrar estiagens prolongadas. “O produtor deve usar toda a tecnologia que possui para amenizar estes riscos climáticos e também todos os métodos de manejo, incluindo aguardar para plantar, visando garantir que as plantas suportem melhor estes períodos”, concluiu Etchichury durante sua palestra.

Além de garantir que a planta tenha as condições ideias para germinação, este atraso no plantio também deve trazer outro benefício: o atraso na chegada da temida ferrugem asiática, pior doença da cultura. “Este atraso na chegada da doença também diminui o número de aplicações de fungicidas para o combate da doença”, garantiu a pesquisadora da Embrapa, Claudine Seixas.

A pesquisadora também destacou, durante sua palestra, a importância da calendarização da soja, que foi criada para que os estados tenham uma data limite para a semeadura da soja na temporada. O intuito, destaca Claudine, é reduzir o número de aplicações de fungicidas para tentar diminuir a resistência do fungo aos produtos atuais. “Nesta última safra tivemos a detecção de resistência a um terceiro principio ativo, as carboxamidas. Já tínhamos registrados resistência aos triazóis e estrobilurinas. Isso acendeu o alerta para a importância de prolongar a vida útil destes produtos”, explica ela.

Ainda sobre o tema de resistência dos insetos as tecnologias, a palestra interativa da diretora do Conselho de Informações sobre Biotecnologias (CIB), trouxe algumas questões para que o público respondesse qual a alternativa correta. A maioria que participou, acertou as respostas. Mas outros mostraram que ainda não sabem exatamente a importância de se apostar no refúgio, por exemplo, que é um manejo para evitar que os insetos ganhem esta resistência. “O manejo é importante para que as tecnologias existentes não percam a eficácia. Demoram muitos anos para que novos produtos sejam lançados e o ideal é mantê-las funcionando”, destacou ela.

Não bastassem as questões da porteira da para dentro, os produtores ainda terão que se virar para comercializar a nova safra e conseguir alguma rentabilidade. “A mensagem que queremos passar é para que o produtor não crie muitas expectativas em cima desta safra. Os custos não são os mais altos, os preços não são os mais remuneradores e os estoque e produções estão elevados no mundo. Ou seja, se fizer tudo certinho, pagará as contas e terá dinheiro para a próxima safra”, afirma o comentarista do Canal Rural Benedito Rosa, que também foi ex-secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura.

Ele ainda fez outro alerta aos produtores do Sul do país. “O governo tem apenas 100 milhões para o seguro rural nesta safra, que é pouco. Os produtores têm precisam ficar espertos com isso, principalmente os do Paraná que correm maior risco com o clima, até mais que no Centro-oeste. Vocês precisam de mais seguros este ano e o governo não os ajudará”, destacou Rosa.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), Marcos da Rosa, aproveitou o tema para reafirmar que o setor precisa se unir para lutar por condições melhores. “Somos competentes da porteira da fazenda para dentro, mas fora de lá não nos unimos, não batemos o pé, não reclamamos para as autoridades. Falem com seus sindicatos, associações vejam o que podemos fazer juntos para melhorar nosso setor”, ressalta o executivo.

O discurso inflamado do presidente da Aprosoja Brasil influenciou até o governador do Paraná, Beto Richa, ao ressaltar que o seu estado está com as finanças em dia, investindo em quase todos os setores, principalmente no agronegócio. “Vejam quais são as maiores economias do Brasil e todos estão com problemas. Mas aqui no Paraná, não. Aqui estamos investindo aproximadamente R$ 8 bilhões em educação, moradia, estradas e no agronegócio”, diz Richa, que na sequência  foi convidado a subir em uma das plantadeiras para dar o início simbólico da safra de soja 2017/2018.

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