Brasil pode importar 1 milhão de toneladas de soja? Sim, e isso será bom negócio

Isso nunca aconteceu e especialistas explicam como o país pode aproveitar a guerra comercial entre China e Estados Unidos para lucrar mais com o seu principal item de exportação

Daniel Popov, de São Paulo
A guerra comercial entre China e Estados Unidos pode trazer a tona uma realidade jamais pensada no Brasil: a importação de soja. Segundo o conselheiro e ex-presidente da Associação Nacional dos Exportadores (Anec), Luis Barbieri, essa possibilidade é real e se dará devido a demanda da China pela soja brasileira. Para ele, os processadores do país poderão recorrer à importação de 500 mil a 1 milhão de toneladas dos Estados Unidos para atender o mercado interno.

O executivo diz que com o embate entre os países, o Brasil poderá exportar mais soja para os asiáticos, recebendo por isso um valor justo já que o prêmio no porto compensa as quedas dos valores na Bolsa de Chicago. Para equilibrar um possível maior fluxo de venda do produto, o país importaria soja dos Estados Unidos a um preço compensador. 

Acredito que o Brasil importaria o grão da soja dos Estados Unidos, processaria internamente e exportaria os manufaturados. Isso só faz sentido em fábricas próximas aos portos de Paranaguá, Rio Grande e Ponta Grossa, as mais distantes não conseguiriam viabilizar isso”, diz Barbieri.

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Para ele, se esta guerra comercial entre Estados Unidos e China continuar,  as exportações brasileiras de grãos de soja serão ainda maiores que as esperadas (73 milhões de toneladas). Podendo superar as 77 milhões milhões de toneladas. “Se isso acontecer, o Brasil importará muita soja. Hoje, ainda não faz sentido importar, porque a soja internacional ainda está mais cara. Daqui há 30 dias isso pode mudar e ai compensará. Isso é bom para o Brasil porque o país ganhará nas duas pontas”, conta o conselheiro da Anec.

O executivo concorda que o Brasil se beneficiaria duplamente deste embate entre os dois países, pois exportaria mais e também compraria soja mais barata, beneficiaria e exportaria com maior valor agregado. “Se isso se confirmar, este será o maior volume de soja já importado pelo Brasil e de uma maneira bastante lucrativa”, garante.

Até o momento o Brasil está exportando mais para os chineses, mas o movimento ainda parece normal, crescimento natural. De janeiro a junho deste ano, o país embarcou 35,9 milhões de toneladas para os asiáticos, 4,36% a mais que no mesmo período do ano passado, quando foi vendido 34,4 milhões de toneladas.

Apesar do incremento atual e de o país ter atingido o maior volume de vendas para a China da história para o primeiro semestre, os volumes ainda são bem menores do que os vistos em 2016 e 2015, quando o crescimento das exportações para o país asiático foi de 16,2% e 19,8%, respectivamente.

Veja a opinião do mercado:

Segundo o analista da Safras & Mercado, Luiz Fernando Gutierrez, esta possível importação ainda depende de as exportações aumentarem consideravelmente. Se isso acontecer, ele não acredita que os preços irão recuar no Brasil devido ao aumento no consumo. “Vai depender muito da demanda por exportação. Se isso acontecer, abre espaço para um aumento da importação para suprir a demanda interna. Mas, não diria que vamos exportar 1 milhão de toneladas, acho difícil”, diz.

Outro ponto que ele discorda é que os Estados Unidos serão os vendedores desta soja para o Brasil. “Importar soja dos EUA é possível, principalmente por causa da diferença que vai ocorrer nos prêmios. Mas vai depender da viabilidade do negócio, acho que é uma possibilidade menos provável”, afirma Gutierrez.

Para o analista de mercado da Agrinvest, Marcos Araujo, confirma que importar soja dos Estados Unidos só será viável para algumas empresas e locais mais próximos aos portos. “Só faz sentido para Bunge e Bianchini no Porto de Rio Grande, porque se considerar outras indústrias, mais distantes dos portos, a soja importada ficaria R$9 mais cara do que a soja brasileira, aproximadamente”, conta.

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