Controle da helicoverpa precisa ser curativo e não preventivo

Praga volta a aparecer em algumas regiões do país e produtores precisam monitorar e quantificar antes de partir para o controle

Daniel Popov, de São Paulo
Há alguns dias produtores de soja do Paraná relataram o aparecimento de lagartas helicoverpa em suas plantações. Agora, relatos vindos da região oeste de Mato Grosso deixam os produtores em estado de alerta. Apesar de as pragas encontradas fazerem parte do grupo dos heliothineos, onde estão as helicoverpas, não é possível garantir se são da espécie armigera, zea ou cloridea virescens. A Embrapa ressalta, no entanto, que o importante é monitorar e quantificar as lagartas para aplicar os agroquímicos no momento certo, já que o controle precisa ser curativo e não preventivo.

A irregularidade das chuvas no Paraná e em Mato Grosso pode ser a principal razão para o aparecimento e desenvolvimento da praga. Relatos de técnicos agrícolas, produtores e integrantes de associações regionais reforçam a suspeita sobre o clima, já que a praga está ocorrendo sobretudo em regiões que estão há 10 ou 15 dias sem chuvas. “As chuvas ajudam no controle, pois inundam as galerias onde ficam as pupas”, conta o coordenador de Defesa Vegetal do Ministério da Agricultura (Mapa), Wanderlei Dias Guerra. “Em regiões mais afetadas, os produtores ficaram de 10 a 15 dias sem chuvas e isso foi suficiente para que as larvas completassem o ciclo de crescimento.”

Segundo Guerra, em suas visitas de rotina as regiões produtoras de soja de Mato Grosso, produtores em áreas com infestação estão relatando dificuldades em controlar a praga com produtos convencionais. E muitos estão preocupados porque a soja já está florescendo e a praga pode descer para a vagem, já que ela ataca o sistema reprodutivo da planta. “Conversei com grandes grupos produtores de grãos em Sapezal, Brasnorte e Campo Novo do Parecis, que semeiam juntos mais de 240 mil hectares e foram unânimes em dizer da dificuldade de controle”, garante Guerra. “Em alguns lugares a infestação está maior que na safra 2013/2014, quando a praga trouxe R$ 1 bilhão em prejuízos.”

Entretanto, antes de tomar qualquer atitude para controle, a Embrapa recomenda monitorar e quantificar as lagartas. “Não adianta se desesperar e sair aplicando agroquímicos. É importante que o produtor monitore a lavoura e conte o número de insetos encontrados por área”, diz o pesquisador da entidade Adeney Bueno.

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Lagarta encontrada no Paraná pode ser a helicoverpa

O controle só deve iniciar quando o produtor identificar lagartas deste grupo helicoverpa/heliothis e a população superar o número de 4 ou mais lagartas por metro linear, usando o bom e velho pano de batida. “É importante contar o número de lagartas grandes, acima de 1,5 centímetros e as pequenas. Se a maioria for pequena, o tratamento pode ser feito com produtos como um agroquímico biológico, por exemplo, que são seletivos e causam menos impactos ao meio ambiente”, alerta Bueno. “Se forem maiores, é preciso usar produtos com maior eficácia.”

Lagarta que apareceu no Paraná pode ser helicoverpa
Lagarta que apareceu no Paraná pode ser helicoverpa

Bueno relembra que fazer o manejo inadequado pode trazer desperdícios e gastos desnecessários. Fazer o combate antes fará com que o produtor gaste dinheiro em aplicações recomendadas para infestações maiores e aplicar muito depois trará prejuízos financeiros e produtivos. “Monitorar é a maior arma que o produtor tem em mãos. Com isso, ele fará o controle adequado e financeiramente melhor”, frisa o pesquisador da Embrapa.

O monitoramento deve começar na soja, mas deve se estender para plantas guaxas. Em caso de aparecimento da praga o recomendado é conversar com o técnico agrícola de confiança para definir um plano de combate.

Por fim, outra recomendação dada pelo coordenador de defesa vegetal do Mapa é não usar um produto demasiadamente e sequencialmente para evitar que a praga fique resistente. “É fundamental a rotação dos produtos para evitar gastos desnecessários e resistência”, conta Guerra.