Dólar em queda, cotação da soja em alta. O que fazer?

Especialistas explicam o que está acontecendo no mercado da oleaginosa, quais as tendências e indicações sobre como aproveitar o cenário

A semana começou com altas nos preços da soja na Bolsa de Chicago, chegando a US$ 10,7 por bushel. Este fato animou muitos produtores que não tinham muita esperança de voltar a conseguir valores tão remuneradores. O problema é que os produtores estão com suas atenções voltadas ao campo, mais especificamente para a colheita. Para os consultores de mercado não há indícios que garantam a permanência dos valores nestes patamares, mas há que acredite que a soja possa ultrapassar a casa dos US$ 11 por bushel, caso as perdas na Argentina se confirmem.

Neste momento, muita coisa está em jogo para o produtor de soja do país. A colheita começou, as chuvas constantes que atrapalham, o dólar em queda, as cotações da oleaginosa em alta e muita soja ainda para vender. A prioridade é colher o grão e evitar perdas por conta do clima, mas com cotações em alta fica difícil não pensar em negociar. E o momento é propício para isso, aponta o analista Carlos Cogo. “Com a soja cotada a US$ 10,7 por bushel e o prêmio pago nos portos de Santos e Paranaguá, ainda elevados para embarque no começo de fevereiro, mesmo com o dólar em queda, é um valor interessante sim”, garante ele.

Abertura Nacional da Colheita de Soja 2016/2017
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Para outro analista, Mário Mariano, há uma retração de vendas no momento porque os produtores do país já negociaram pouco mais de 50% antecipadamente de suas safras. “Essa movimentação já garantiu pelo menos o pagamento dos insumos e no investimento de lavouras. O que mostra para que ele volte ao cenário de vendas será preciso de um preço maior”, diz Mariano. “Este preço maior poderia ser importante para o produtor. Contudo, eles estão mais preocupados com a colheita neste momento.”

A tão esperada reação nos preços da soja aconteceu, influenciada pela redução da estimativa da safra anunciada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA na sigla em inglês) e pela variação do câmbio. A volatilidade do dólar deve ficar maior com a posse do novo presidente dos Estados unidos, Donald Trump, na próxima sexta feira, dia 20. “Existem especulações de que Donald Trump pretende baratear o dólar. O mercado já espera que ele cumpra suas promessas de campanha, como hoje pela manhã, quando ele confirmou que irá revisar o acordo de Nafta com o México e Canadá. Isto é um indicativo que ele irá alterar a política monetária dos Estados Unidos”, comenta Cogo.

Neste momento, os olhares do mercado se voltam para as safras da América do Sul, tanto na Argentina, terceiro maior produtor de soja no mundo, mas que por conta do clima pode registrar perdas superiores a 5 milhões de toneladas, como no Uruguai e Paraguai que com suas produções em alta, conforme previsto), podem minimizar as perdas do país vizinho. “Se confirmada esta quebra no mercado argentino, acredito que a cotação da soja na Bolsa de Chicago pode ultrapassar a linha dos US$ 11 por bushel com certa facilidade”, ressalta Carlos Cogo.

Além da Argentina, Lucilio Alves, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), comenta que não se pode ignorar os problemas climáticos vividos no Brasil. “Não podemos esquecer que nós também temos condições climáticas adversas, no Norte e Nordeste do Brasil devido à seca. Importante saber se a produção no Sul compensará estas perdas”, pondera o especialista em grãos do Cepea.

Apesar das altas registradas e das possibilidades de baixas apontadas pelos analistas, o pesquisador do Cepea não acredita que o preço da soja irá oscilar muito neste primeiro semestre. “Os preços negociados para o primeiro semestre de 2017 não sinalizam mudanças de patamares em dólares. De onde pode vir alguma mudança? Dos choques de oferta ou do cambio”, diz Alves. “Se não há sinais de mudanças de preços e ao mesmo tempo poucas vendas antecipadas, certamente há expectativa de que o preço suba.”

Tanto Alves, quanto Cogo recomendam que os produtores fiquem de olho no mercado e negociem sempre que os preços melhorarem. “A partir do momento que o preço estiver atrativo e cobrir o custo de produção, recomendo fechar algumas vendas, mesmo que em quantidades menores”, diz o pesquisador do Cepea.

Com informações de Juliana Camargo

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