Empresas erram classificação da soja e revoltam produtores

Preocupada com a situação, a Aprosoja contratou um classificador credenciado no Ministério da Agricultura para verificar a situação e o que ele encontrou é assustador

Pedro Silvestre, de Mato Grosso
A reclamação é antiga e acontece em todo o Brasil. O índice de umidade e impurezas avaliado pelas empresas compradoras de grãos, normalmente, é mais baixo do que o computado pelo produtor. Pensando em desvendar de uma vez por todas o que acontece, este ano a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), contratou um classificador de grãos credenciado pelo Ministério da Agricultura. O resultado? Confira abaixo:

O produtor Jucelino Cossetin, de Nova Mutum (MT) está acostumado a perder dinheiro após a classificação de sua soja, mas isso não impede que ele fique, toda a vez, indignado e estressado com a situação. Em três cargas entregues, a disparidade na umidade e teor de impurezas nos grãos na medição da empresa em comparação a dele, trouxe um prejuízo de R$ 10 mil. “Quer dizer estou perdendo quatro sacos por hectare nessa brincadeira, é muita coisa. Trabalhamos e ralamos o ano todo, e na hora que o produto é entregue os caras te tiram tudo  isso”, reclama Cossetin.

personagem soja

Sem falar na diferença que ele encontra na classificação de uma empresa para a outra, com soja colhida do mesmo talhão. Em um dia de colheita ele encheu dois caminhões, um foi para uma empresa e o outro para outra, no mesmo dia, na mesma hora. Na primeira o índice de umidade reportado foi de 24,9% e na outra 19%. “A produtividade estava dentro do esperado, mas com essas classificações não tem jeito, não”, diz o produtor.

Constatada a diferença, o produtor até procurou a empresa na expectativa de um acordo, mas não conseguiu resolver o seu problema. Ele disse que em conversa com o gerente do estabelecimento, o mesmo até admitiu o que o aparelho é americano e foi calibrado com uma temperatura parecida com o país norte americano e não do Brasil. “Me falou que não poderia devolver a diferença, que não tinha o que fazer. Mas, eu posso levar o prejuízo, né. Disse que me compensaria em uma venda futura, mas eu não vou levar soja lá e continuar sendo lesado como eu fui”, conta o produtor.

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O agricultor Leandro Carlos Bortoluzzi passa pelo mesmo problema. Nesta safra cultivou 480 hectares com soja e como não tem armazém próprio, está colhendo e já entregando o grão para cumprir dois contratos: um de 12 mil sacas e outro de 8 mil sacas. “Em nossa medição deu 17% de umidade e lá deu 20%. Como é possível tanta diferença, transportando até ali apenas?”, indaga Bortoluzzi. “Isso nos deixa com muita raiva. Porque passamos o ano inteiro embaixo do sol, sofrendo para produzir e no final as empresas nos roubam, isso não é certo.”

Segundo o delegado da Aprosoja-MT, Cezar Martins, a esperança era que não tivesse mais este problema, mas as tradings não buscam solucionar este impasse. “Todo ano é a mesma ladainha , a mesma problemática. Não pode ser um funcionário que aprendeu fazer uma classificação, ali rapidinho. Tem que ser alguém credenciado pelo Ministério da Agricultura, com um classificador oficial”, garante Martins.

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Preocupada com esta situação, a Aprosoja contratou uma empresa de classificação credenciada no Ministério da Agricultura para deixar à disposição dos produtores associados, sem nenhum custo.

Diante disso a entidade foi a campo fazer alguns testes. Será que houve diferença? O técnico foi te a propriedade de Bortoluzzi, lembram, que em seu teste na colheitadeira havia dado 17% de umidade e na empresa 20%. Foram carregados dois caminhões com soja colhida do mesmo talhão. Antes de partirem para as duas empresas, o classificador oficial coletou as amostras.

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No primeiro caminhão os testes oficiais deram 19% de umidade, enquanto na empresa o valor era de 20,4. Em relação à impureza o marcador do Mapa deu 0,5% e o da companhia deu 1.2%. No segundo, o classificador marcou 16,8%, e a empresa 18,7%, diferença ainda maior que a primeira empresa. “Uma diferença muito grande. O que chama ainda mais a atenção é que a classificação entre as próprias unidades armazenadoras tem divergências. Tinha que dar igual ou uma pequena diferença”, afirma o classificador credenciado, Huander da Silva Moreira.

Além das classificações incorretas, o especialista do Mapa encontrou irregularidades em algumas empresas visitadas. Como o modo de calagem do produto no caminhão, a falta de um homogeneizador dentro da sala de classificação entre outros. “Encontramos mais algumas irregularidades. Faremos um levantamento em outros armazéns da região e passaremos para a Aprosoja um levantamento final. Porque existe um padrão a ser cumprido e todos tem que seguir as normas”, garante Moreira.

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