“Este ano o produtor de soja não pode errar”

Esta frase dita pelo presidente da Aprosoja-MT, Endrigo Dalcin, resume bem o atual momento da principal cultura agrícola do país

Os produtores de soja do país vivem uma situação desafiadora nesta safra que se inicia. De um lado estão as expectativas de um clima melhor e consequentemente de uma produção maior. Do outro, custos de produção elevadíssimos, preços das commodities baixos e endividamentos. A solução parece óbvia, não errar! Mas, ela é difícil de praticar, afinal nem tudo depende do produtor.

O sojicultor está bem cauteloso nesta safra, constatou a Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), e isso é bom, garante o presidente da entidade Marcos da Rosa. A safra começou com otimismo já que o clima deve ser melhor que no ano passado e a expectativa, de algumas entidades ligadas ao setor, é de uma produção 5% maior, chegando a 101 milhões de toneladas. “Consideramos a cautela uma virtude porque os obstáculos do campo não se resumem ao clima”, comenta Da Rosa. “Os custos de produção estão muito apertados, basta um deslize e nem esta produção recorde será capaz de cobrir os gastos no campo.”

Segundo ele, a primeira atitude para tentar contornar os altos custos é gerir melhor a propriedade, entender exatamente quanto se gasta com insumos e onde é possível economizar. “Existem opções mais baratas para a fertilidade do solo, que podem trazer ganhos de produtividade para a propriedade, como as técnicas de rochagem ou a agricultura fermentativa”, garante ele. “Os custos de produção estão muito elevados nesta safra, próximos às produtividades, é preciso baixar isso.”

Levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), registrou que o custo de produção por hectare no estado está na casa das 53 sacas. Sendo que a média não supera a casa das 50 sacas. “Sem contar que boa parte dos produtores tem alguma dívida para sanar da safra passada, se colocar no papel a conta não fecha”, diz Da Rosa.

Para o presidente da Aprosoja-MT, Endrigo Dalcin, a segunda etapa a ser superada é o plantio. Muitas regiões de Mato Grosso, Paraná e Mato Grosso do Sul ainda não registraram chuvas e o ideal é avaliar a umidade do solo e as previsões de precipitações para iniciar a semeadura. “A instalação das lavouras é muito importante para garantir a produtividade. No ano passado, uma avaliação errada sobre o clima levou muitos produtores a fazer o replantio”, relembra ele. “Este ano o produtor não tem reserva de sementes, nem dinheiro para comprar e precisarão acertar a mão e plantar na hora certa, nem que isto atrase um pouco a safrinha.”

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Dalcin ressalta ainda que apenas a região Leste do Estado ainda não iniciou o plantio, devido a falta de chuvas. Com isso, Mato Grosso plantou 5% da área estimada de 9,3 milhões de hectares.

A comercialização da safra também é um fator para se atentar. A recomendação geral é travar pelo menos 20% da futura produção e depois vender lotes cada vez que os preços apontarem para uma boa margem de lucro. Mas, ao que parece isto não está acontecendo. Segundo Dalcin, somente 27% da safra já foi comercializada até o momento, em Mato Grosso. No ano passado, este numero já ultrapassava os 40%. “O mercado travou, os preços estão caindo e muitos produtores nem começaram a vender sua soja ainda. Isso preocupa lá para frente”, frisa ele. “Por tudo isto que este ano o produtor de soja não pode errar.”