“Estou com medo de plantar soja, pois se o mercado não virar, saio no vermelho antes de colher”

A frase dita por um produtor de Mato Grosso, que já contabiliza um prejuízo de R$ 7,5 milhões por conta do impasse sobre os fretes, resume um sentimento generalizado no estado

Pedro Silvestre, de Diamantino (MT)
O imbróglio sobre o preço mínimo do frete está aumentando a tensão sobre o setor produtivo de Mato Grosso. Ele tem paralisado os negócios, aumentado os custos de produção e já ameaça a produção de soja da próxima safra.

A rotina do produtor Altemar Kröling, nos últimos dias, está bem diferente da vivida em outras safras. Nessa época o agricultor costumava ficar no campo acompanhando a colheita do milho cultivado na propriedade. Mas, a indefinição quanto à entrega dos insumos para a safra de soja, o tem deixado apreensivo e o levado a constantes visitas à revenda onde comprou os produtos.

“Está tudo parado. Chegando alguma coisa de fertilizante, mas muito pouco. Os negócios que foram feitos antes e que estavam para chegar, me deixa mais preocupado, apreensivo. Em um levantamento rápido que fizemos no município, cerca de 50% do fertilizante está dentro das propriedades, 25% está negociado mas não veio e 25% ainda tem que ser negociado”, diz Kröling.

1º Fórum Soja Brasil – Safra 2018/2018

Outro produtor que está sofrendo com o problema é Erny Parisenti, que em plena colheita do milho segunda safra tem enfrentado dificuldades com o armazenamento. O silo da propriedade tem capacidade para 24 mil toneladas, mas ainda guarda 6 mil toneladas de soja e outras 8 mil de milho. O espaço restante é insuficiente para abrigar a nova produção da fazenda, que plantou 14 mil hectares de milho. Preocupado, o produtor pensa até em dividir o preço do frete com as tradings para retomar o escoamento dos grãos.

“Estamos trabalhando em ritmo reduzido na colheita do milho. Temos colheitadeiras para fazer bem mais rápido, mas falta espaço para guardar. Estamos segurando tudo, tentando arrumar espaço, tentando negociar com as transportadoras e empresas que temos os contratos, para fazerem a retirada dos produtos”, diz Parisenti.

O produtor fez um cálculo rápido para saber qual o tamanho do prejuízo e, segundo ele, pode chegar a R$ 7,5 milhões. “Meu prejuízo é bastante já. Se multiplicar R$ 5 que perdi por saca de milho, que desvalorizou, por 1,5 milhão que é a quantidade de sacas que colhi, dá para saber o tamanho da conta, mais ou menos. É complicado”, diz.

Algumas revendas dizem que a cautela é consequência da instabilidade em relação aos valores cobrados pelo transporte, após o acordo do governo e transportadores autônomos na confecção do preço mínimo do frete.

“Tudo parado. Hoje não se consegue comprar uma carga de adubo se não for retirada em Rondonópolis ou Paranaguá. Cada um está cobrando o que quer, não tem mais estabilidade de trabalho, desde o preço dos insumos, câmbio, adubo, ninguém quer assumir a bronca do transporte”, conta o representante comercial Marcos Augusto Garbui.

Segundo o presidente do Sindicato Rural de Diamantino, José Cazzeta, isso tudo certamente vai interferir diretamente no cultivo da próxima safra de soja no município.

“Isso já compromete a safra futura, que ainda vamos plantar. Hoje, ninguém tem adubo na roça, praticamente, e aqueles que ainda nem compraram, como irão fazer com esses preços? Estou com medo de plantar, pois se o mercado não virar, saio no vermelho antes de colher”, diz Cazzeta.

Indignado, Cazzeta também questiona a nova proposta de tabelamento de frete apresentada pelos transportadores de cargas ao governo e afirma que os sindicatos rurais estão apoiando a Aprosoja-MT ao não aceitar a cobrança.

“Se no nosso país não tem nada tabelado e alguma coisa não funciona, porque tem que tabelar frete? Toda vida foi livre concorrência, se tenho caminhão e não quero puxar para você em um preço, tem outro que puxa. Agora, o governo querer implantar isso em cima de um setor que é o responsável pela comida do consumidor, não está certo. Se for assim, os produtores mais estruturados irão encher de caminhões estradas, porque pagar frete não vai compensar. Se essa tabela for aprovada, o produtor médio e pequeno irão quebrar e a sociedade vai pagar muito mais caro, porque o produto vai encarecer na mesa de cada um”, diz.

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