Estrangeiros estão de olho nas terras brasileiras

Interesse do governo federal em criar um projeto de lei para regulamentar a venda de terras para estrangeiros está atraindo interessados ao país

Daniel Popov, de São Paulo
O recente interesse demonstrado pelo governo federal em mudar a legislação para permitir a compra de terras por estrangeiros está gerando uma movimentação diferente neste mercado de propriedades rurais. Nos últimos meses, grupos estrangeiros têm desembarcado no país e buscado informações sobre a compra de terras, tramites legais, funcionamento das operações entre outros. Por sua vez, produtores brasileiros temem que isso não seja tão benéfico ao setor quanto parece.

Apesar de não poderem comprar nada ainda, a busca por informações demonstra o grande interesse dos investidores estrangeiros no país. Segundo o analista de mercado da consultoria Informa Economics IEG/FNP, Márcio Perin, as regiões mais buscadas foram o Mato Grosso e o Matopiba, que engloba a Bahia, Maranhão, Piauí e Tocantins. “Estes estados possuem áreas maiores e facilitaria a concentração dos negócios”, comenta Perin. “Soubemos de interessados dos Estados Unidos, Europa e Ásia.”

O diretor técnico da Informa Economics IEG/FNP, José Vicente Ferraz, comenta que a baixa liquidez do mercado de terras brasileiro, tem atraído estes investidores, interessados em pagar pouco. “Existe uma quantidade relativamente grande de empresários brasileiros que precisam se desfazer de ativos para melhorar o caixa. Como na maioria dos casos, são terrenos caros e o vendedor quer receber a vista, fica difícil negociar. E estes grupos estão de olho neste tipo de oportunidade, pagar barato por terras boas”, frisa.

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Segundo o presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), Marcos Montes, em conversas com o presidente Michel Temer e outros integrantes do governo federal, nota-se certo entusiasmo para a criação de um projeto de lei que regulamentaria a compra de terra por estrangeiros. “Conversei com o presidente Temer no inicio do mês e ele se mostrou muito entusiasmado. Por isso montou um grupo de trabalho para debates e sugestões para que o governo possa montar um projeto mais adequado, que tenha facilidade em tramitar na casa”, afirmou Montes com exclusividade ao site Soja Brasil.

O executivo comentou ainda que existem algumas ideologias diferentes que atrapalham o processo. “A aprovação de um projeto com este, de venda de terras para estrangeiros, é uma oportunidade para atrair investidores”, conta ele. “Este é um assunto que ainda gera muitas dúvidas, discussões, debates e polêmicas, por isso precisa ser debatido.”

Por sua vez, o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil, Marcos da Rosa, deu a sua impressão pessoal sobre o assunto, já que também é um produtor rural. Para ele, o Brasil já é bastante internacionalizado e não vê vantagens nesta atitude. “Nosso país já é bem internacionalizado, nunca deixamos de carregar o pau brasil no navio português e agora vamos entregar nossas terras para os estrangeiros também?”, frisou ele, ao deixar claro que esta não é uma posição da Aprosoja, mas sim, do produtor. “Meu filho nem sabe se quer seguir trabalhando em minha fazenda, imagina se aceitaria trabalhar para um grupo estrangeiro, acho que não.”

Da Rosa comentou que o próprio ministro Blairo Maggi, já disse que só é a favor da venda de terras para estrangeiros, em caso a cultura a ser cultivada seja perene. “Esta é uma discussão longa e acredito que precisa ser bem debatida antes de qualquer atitude”, garante.

Veja a matéria com José Vicente Ferraz

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