Mercado lança nova opção para comercialização da soja no Brasil

Já pensou em garantir o desejado preço mínimo para a soja? Ou vender com o preço baixo e ganhar a diferença, caso o valor suba? Isso tudo já é possível e com operações em reais

Daniel Popov, de São Paulo
Há bastante tempo todos os especialistas em agronegócio vêm alertando os produtores rurais sobre a importância de se melhorar a comercialização da safra para garantir uma renda melhor. Fazer trocas, segurar estoque para vender depois ou mesmo travar preço junto as tradings, não são métodos tão rentáveis assim. Melhor do que todos estes, são os contratos de opções, que ajudam a garantir um preço mínimo, ou até faturar mais se o preço subir. E agora isso pode ser feito facilmente no Brasil, veja como:

Imagine que o preço da soja atual na Bolsa de Chicago esteja na casa de US$ 9,90 por bushel, que junto com o câmbio atual de R$ 3,22, formam um preço final pela saca de soja de R$ 70.Muitos produtores, principalmente os que atuam em locais distantes dos portos, não acham esse valor tão rentável assim, pois terão descontos de logística. Mas, esse preço ainda corre o risco de cair ainda mais, já que os Estados Unidos colheu uma safra recorde e o Brasil caminha para uma grande colheita também.

Muitos ficam confusos nesta hora, vender agora a preços não tão bons, ou esperar um valor melhor no futuro e correr o risco de ele cair ainda mais?. Ou ainda, vender agora e correr o risco de não ganhar mais, caso o preço suba.

Os contratos de opções operados na Bolsa de Chicago resolvem as duas possibilidades antes mesmo de o produtor saber como o preço de fato ficará no futuro. O melhor disso tudo é que, agora, o produtor brasileiro terá como fazer isso aqui do Brasil, falando em português e pagando em Real. Isso porque a B3, companhia de infraestrutura de mercado financeiro (que surgiu da união entre a BM&FBOVESPA e a Cetip), lançou no Brasil um contrato de opção espelho do mercado de derivativos de Chicago.

“Esse produto não existia, ele é uma opção de soja com referência no preço de Chicago. Agora o produtor poderá negociar diretamente no mercado de opções no Brasil. Além disso, ele ainda ganhará em relação ao fluxo de caixa, pois em uma operação de mercado futuro, se o preço sobe ele paga ajuste diário e no mercado de opções não, ele paga apenas o prêmio”, conta a superintendente de Relacionamento da B3, Fabiana Perobelli.

O que é um contrato de opções?

Esta modalidade do mercado de derivativos oferece ao produtor o direito (e não a obrigação) de vender ou comprar um contrato futuro de soja com preço e data predeterminados. Veja os exemplos abaixo.

Exemplo 1:

Vamos imaginar que o produtor tenha feito um contrato a termo com uma trading e vendido sua soja para ela por R$ 70 por saca, para entrega em fevereiro. Neste caso, ele gostou do preço, mas tem medo de o preço continuar subindo e ele deixar de ganhar mais, uma vez que ele já assumiu um compromisso de venda da soja a R$ 70.

Em vez de se arrepender ou não vender, este mesmo produtor pode buscar uma corretora que opera na Bolsa e fechar um contrato de opções para tentar ganhar a diferença caso o preço suba mais de R$ 70. Para isso ele precisará comprar uma CALL. que funciona como um seguro de alta na Bolsa de Mercadorias, com diferentes preços para a saca de soja. Considere que ele comprou uma CALL com cobertura (strike) a partir de R$ 70, pagando um prêmio de R$ 1 por saca no ato da compra.

Cenário 1 – O preço da soja subiu para R$ 80

– Ele entregará a soja para trading e receberá os R$ 70 que combinou

– Aciona a call e fatura R$10 por saca

– Abate o custo da CALL (prêmio) de R$1 por saca

– E contabiliza um preço final de venda da soja de R$79 por saca

Cenário 2 – O preço da soja caiu para R$ 60

– Ele entregará a soja para trading e receberá os R$ 70 que combinou

– Não aciona a CALL

– Abate o custo da CALL (prêmio) de R$1 por saca

– E contabiliza um preço final de venda da soja de R$ 69 por saca

 

Exemplo 2:

Vamos imaginar que o produtor não quis vender a soja a R$ 70 para a trading, por achar que o preço não estava tão bom, além da perspectiva de que ele ainda vá subir. Então, ele vai na corretora de confiança, compra uma PUT, que funciona como um seguro de baixa de preço (isso mesmo a tão sonhada garantia de preço mínimo). Considere que ele comprou uma PUT com cobertura (strike) a partir de R$ 71, pagando um prêmio de R$ 1 por saca no ato da compra.

Cenário 1 – O preço da soja caiu para R$ 60

– Ele venderá a soja no mercado físico, ao preço do dia (R$60 por saca)

– Aciona a put (seguro de baixa) e fatura na Bolsa R$11

– Abate o custo inicial da operação (prêmio) de -R$1 por saca

– E contabiliza um preço final de venda da soja de R$70

Cenário 2 – O preço da soja subiu para R$ 80

– Ele venderá a soja no mercado físico ao preço do dia (R$80 por saca)

– Não aciona a put (seguro de baixa)

– Abate o custo inicial da operação (prêmio) de -R$1 por saca

– E contabiliza um preço final de venda da soja de R$79

Parece bom né? E agora, com operação espelhada da Bolsa de Chicago no Brasil, o acesso a esta opção ficará muito mais fácil, garante a superintendente da B3. “Antes disso, o produtor precisaria encontrar um corretor que tivesse acesso a Chicago, pagar os custos da operação em US$ e também da corretagem. Agora o produtor pode fazer isso na B3, através de uma corretora, com sua própria conta no banco e em Reais”, garante ela.

A função estará disponível a partir do dia 11 de dezembro e os produtores interessados podem buscar informações junto a corretoras locais.

Opinião do produtor rural

O produtor rural, Julio Toledo Piva, aprovou o novo lançamento e destacou facilidades que isso trará ao setor. “Com isso, o  produtor brasileiro terá mais bancos e corretoras ofertando o produto e os custos da transação ficarão mais baratos. Este mecanismo dá certo grau de liberdade de comercialização que antes não havia”, explica ele.

Piva também ressalta a importância de os agricultores melhorarem suas comercializações para aumentar a rentabilidade. “Não adianta nada produzir bem e vender mal. No passado, como o produtor não ligava para a comercialização, quem assumia esse papel eram as tradings e empresas de insumos. Agora com estes novos mecanismos, o produtor tem a obrigação de sair da zona de conforto e trazer essa comercialização de volta, só assim terá lucro real”, conta.

Para a superintendente da B3, a criação deste espelho irá ampliar a oferta do contrato de opções. “Com o passar do tempo e a entrada de mais operadores e produtores o processo ficará mais simples ainda e ficará mais fácil achar uma corretora para fazer isso, com opção de operar via site ou aplicativos.

Opinião da corretora

Para o operador da corretora h.Commcor, Samuel Garcia, este novo contrato tem tudo para atrair muito mais produtores do que o já lançado contrato de futuros. “O contrato de opções é uma ferramenta mais completa e com custos menores. Ele dará a chance de este produtor se cercar de cuidados e ganhar dinheiro com isso”, diz.

Uma das diferenças apontadas por ele como mudança de se operar opções do exterior e no Brasil, é na questão bancária. “Antes ele tinha que abrir uma conta no exterior e ficar repassando dinheiro para lá. Isso tudo em dólar. Agora, as operações serão mais fáceis e em reais. Sem falar que se bobear o produtor ainda ganhará algo em relação a impostos”, ressalta ele.

Antes já era possível fazer a operação, no exterior, como pessoa física, mas era trabalhoso. Agora o produtor mais simples terá acesso a esta operação. As corretoras irão oferecer sites e aplicativos para facilitar também, por isso acho que este contratos irá bem”, finaliza Garcia.

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