Nova praga encontrada no Chile tem grande potencial de adaptação no Brasil

Percevejo de origem asiática foi introduzido recentemente nos Estados Unidos e se proliferou rapidamente

Daniel Popov, de São Paulo
Antes de qualquer coisa, calma: a praga que vamos relatar a seguir não apareceu no Brasil. Pelo menos, ainda não. Apesar disso, esta espécie de percevejo já é bem conhecida na Ásia (região de origem) e nos Estados Unidos, onde se infiltrou recentemente, mas se alastrou com uma velocidade impressionante. Conhecida entre os pesquisadores como “Brown Marmorated Stink Bug”, ou em tradução livre, percevejo marrom marmorizado, a praga que já causou bastante estrago mundo afora, agora foi encontrada em nosso vizinho Chile.

Seu nome científico é Halyomorpha halys e pode ser encontrada associada aos cultivos de maçã, caqui, soja, pêssego, milho, frutas cítricas, feijão, uva, entre outras. Os principais danos causados pela praga é a necrose das superfícies das folhas e nos frutos.

Uma característica considerada bastante diferente dos percevejos conhecidos no Brasil, comenta o pesquisador e líder da Equipe de Entomologia da Embrapa Soja, Samuel Roggia, é que esta praga foi considerada doméstica, por se abrigarem nos ambientes com os seres humanos. “Normalmente, no inverno os percevejos hibernam e para isso buscam abrigo em matas fechadas ou pouco movimentadas. Há, no entanto, casos de infestações em residências, mas por estarem próximas a lavouras ou se a infestação é muito grande”, explica ele.

Halyomorpha_halys_labNo entanto, esta característica pode justamente ser a responsável por esta praga chegar as Américas, e mais recentemente ao Chile, já que ela pode se esconder entre roupas, e objetos e entrar tranquilamente ao novo país. Em 2011, a Halyomorpha halys foi interceptada no norte do Chile em mercadorias vindas dos Estados Unidos e alguns casos isolados também foram registrados, mas, até onde se sabia, a praga não tinha se estabelecido no país. Desde então foram definidos os requisitos fitossanitários para o controle da praga.

“No Brasil, historicamente, as pragas também entram por onde chegam as mercadorias, ou seja, portos, aeroportos e fronteiras. O bicudo do algodoeiro foi encontrado a primeira vez nos arredores do aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP), bem longe de plantações de algodão”, conta Roggia, ao ressaltar que as pragas podem sobreviver e se espalhar longe de culturas agrícolas.

Mas, se até então tudo estava tranquilo no Chile, neste ano percevejos coletados por pesquisadores em três residências localizadas em diferentes pontos dentro da cidade de Santiago, confirmaram ser da espécie H. halys. Esse é o primeiro registro do estabelecimento de Halyomorpha halys no Chile e na América do Sul. Os autores sugerem que sejam feitas pesquisas para saber o real status desta praga dentro do país. O Ministério da Agricultura do Chile já declarou obrigatório o controle de H. halys.

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OBS: As áreas verde-escuras são as com maior adaptabilidade a praga. 

Alguns estudos sobre seus limites climáticos e estimativas do potencial de sua distribuição geográfica foram realizados e a região Sul do Brasil tem grande potencial para abrigar e adaptar a praga. “Vale ressaltar que este alerta foi feito entre especialistas e pesquisadores, mas não ao produtor rural. Ainda não notamos a presença desta praga por aqui”, afirma Roggia. “O poder público tem que manter sua postura e fiscalizar bem, para evitar que estas pragas entrem no país.”

De acordo com os dados levantados pelo pesquisador Giliardi Alves, levando em consideração as espécies introduzidas no Brasil, 31,6% também estão presentes no Chile. Isso alerta para o risco de introdução no Brasil de uma praga presente no Chile, principalmente por ser um parceiro comercial. “Se a praga entrar, irá se adaptar bem no Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina. Isso é uma coisa para nos preocuparmos”, conta Samuel Roggia.

Por fim, o pesquisador relembra que algumas pragas que infestaram nossos vizinhos e tinham grandes chances de entrar no Brasil, ainda seguem distantes daqui. Entretanto, tanto os pesquisadores quanto outros estudiosos seguem em alerta para suas aparições.

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