Para diretor da SRB retirada do paraquat beneficia indústrias e prejudica produtor

Além de representante da entidade, Frederico d’Avila também é produtor rural e defende que governo crie uma alternativa parecida e barata, antes de proibir o uso do herbicida

Daniel Popov e André Anelli
O prazo para a retirada do herbicida com o princípio ativo paraquat do mercado brasileiro é de três anos. Na avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o produto poderia causar mal de Parkinson e mutações genéticas. Mas, para o diretor da Sociedade Rural Brasileira (SRB), Frederico d’Avila, a decisão foi mal tomada e defende única e exclusivamente o interesse das indústrias de químicos, já que o produto é barato e qualquer empresa pode fabricá-lo.

A decisão, que ainda pode ser revista, caso surjam novas evidências científicas que garantam a segurança de quem utiliza o produto, tem trazido dor de cabeça aos produtores de soja do país. Isso porque, o paraquat é um dos produtos usados para o manejo de ervas daninhas e dessecação de área. “As alternativas são caras e pouco eficientes. O governo está tirando uma ferramenta do produtor, sem dar uma alternativa para substituição. Não adianta vir com outro produto três vezes mais caro, isso não é alternativa”, defende d’Avila, que também é produtor rural.

Durante a Caravana do Projeto Soja Brasil pelo Paraná alguns produtores e engenheiros agrônomos foram ouvidos e todos defenderam a permanência do produto. “A alternativa que nos sobra custam três vezes mais que o Paraquat. Alguns temos que usar bem antes do tempo, outros precisam de pelo menos 30 dias para funcionar. Isso não é possível”, destaca o agrônomo José Guilherme Viane, de Goioerê. “

Segundo d’Avila, na França e nos Estados Unidos o paraquat é usado para dessecar trigo, justamente por ser seguro e não apresentar translocação para o grão (ou seja o grão não sofre qualquer mudança com o produto). “Na França, que é um país com altas exigências, eles permitem o paraquat, porque aqui não pode? E olha que no Brasil este produto não pode ser usado para dessecar trigo. Aqui só pode ser realizado para controle de erva daninha e ainda assim não querem mais permitir”, conta o diretor da SRB.

Outro engenheiro agrônomo Itambé, no Paraná, explica que o paraquat não é usado sozinho, mas como parte de um manejo integrado contra as plantas daninhas. “A proibição no uso do paraquat será um problema grande, pois temos o manejo para controlar a Buva aqui e o manejo conjunto com o ele era a única coisa que dava certo”, explica Valdecir Cravo.

O diretor da SRB ressalta que a alegação principal de que o produto causa a doença de Parkinson, não é válida, já que o ser humano não consome erva daninha. “Então estamos falando de quem aplica, certo? Mas os pulverizadores atuais, são cabinados, com filtro de carvão ativado, pressão positiva na cabine e o cara que opera não é o mesmo que abastece o veículo. Sem falar que o funcionário que faz a calda, usa todos os itens de segurança para químicos”, explica  o consultor técnico da propriedade do diretor da SRB, Sebastião Takahashi.

Foto: Daniel Popov

Se nenhuma pessoa tem contato direto com o produto e as ervas daninhas não são consumidas, só um fato explicaria esta intervenção sobre o produto, garante d’Avila. “Pra mim esta decisão encobre o interesse das indústrias químicas. Pois o produto mais usado no país é eficaz e não justifica a compra de outros herbicidas muito mais caros e ineficientes”, afirma o diretor. “Nós fazemos a rotação de produtos, mas muitos não fazem o que o paraquat faz. O governo precisa criar uma alternativa antes”, defende ele.

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