Paraguai ainda aposta em 2ª safra de soja e se dá mal

Prática proibida no Brasil é bastante comum entre nossos vizinhos que tem altos custos para tentar evitar perdas com a ferrugem asiática. Produtividades obtidas não superam nem 30 sacas por hectare

Roberta Silveira, de Santa Rita (PY)
Não é a toa que os principais estados produtores de soja do Brasil proibiram a semeadura da soja segunda safra. Baixa produtividade, ponte verde para doenças como a ferrugem asiática, altos custos e preços baixos na venda do grão estão mostrando aos paraguaios, que insistem em cultivar soja sobre soja, que isso não é rentável.

A justificativa de muitos é que esta semeadura serve para fazer sementes. Até pode ser que alguns façam mesmo, mas a verdade é que a cultura é a que possui melhores preços no mercado e os produtores acham que podem conseguir uma remuneração melhor. Falsa impressão, pois os custos da soja também são mais altos que as outras culturas e assim é preciso conseguir uma produtividade mínima para arcar com este gasto.

IMG_0963O produtor Cesar Augusto Matte é nascido no Brasil, mas vive no Paraguai há mais de 30 anos, um brasiguaio então. Ele produz soja na região de Santa Rita, há 340 quilômetros da capital Assunção e 80 km de Foz do Iguaçu, no Brasil. Por lá, ele aposta no cultivo de duas safras seguidas com soja, mas os resultados da colheita da safrinha atestou o porquê os brasileiros não caem mais nessa. Na primeira colheita de soja ele conseguiu uma média superior a 60 sacas por hectare. Agora, nesta segunda a média caiu para 25 sacas apenas, bem abaixo dos custos de produção.

O produtor explica que o atraso do plantio prejudicou o desenvolvimento da lavoura. “Esse problema climático não aconteceu agora. Veio antes, durante a soja primeira safra e atrasou o ciclo normal da soja. Com isso, a soja segunda safra atrasou para ser cultivada e muitos dias ficaram encobertos o que atrapalhou o desenvolvimento”, conta Matte.

A justificativa para manter esta soja de segunda safra, é que o clima de março a maio é melhor para a qualidade da semente produzida, do que de dezembro a março, por causa das temperaturas mais elevadas. “Não conseguimos tirar uma semente de qualidade em janeiro e fevereiro por causa da alta temperatura. Então, agora com a temperatura mais baixa, a semente vem com bom vigor e qualidade”, garante o produtor Jackson Bressan, que também é um brasiguaio.

IMG_0996No Brasil, a principal razão para as proibições de cultivo de uma segunda safra de soja é a possibilidade de se manter a pior doença ainda em campo, a ferrugem asiática. Lá no Paraguai os produtores acreditam que um manjo adequado diminui a chance de a doença sobreviver. Mas, será que isso é viável? Lembrando que muitos produtos voltados ao tratamento da doença já estão perdendo sua eficácia por uso continuo e exagerado. “Eu acho que o problema não está aqui. Mas, sim nas plantas guaxas que sobrevivem no meio do milho safrinha, por exemplo. Eu acho que isso ai é mais crítico do que o que nós estamos fazendo aqui. Esta é a minha opinião e acho que é a opinião de todos os agricultores do Paraguai”, defende Bressan.

Só que os argumentos do produtor não se sustentam, pois para elevar o cuidado com a doença é preciso gastar mais. A estimativa dos paraguaios é que se a colheita não chegar a, pelo menos, 30 sacas por hectare, na média, o produtor fica no prejuízo. Se usarmos o exemplo do produtor Matte, dá para perceber que as contas para justificar a segunda safra de soja estão bem complicadas. “Temos que fazer no mínimo três aplicações com fungicida e ir cuidando para a planta não morrer por conta da ferrugem. Aprendemos em outros anos que a ferrugem nos deixa com o bolso vazio, né. Então, temos que fazer o manejo, só que o custo eleva. E se a gente não colher bem, já fica inviável”, afirma outro produtor brasiguaio, Márcio da Silva Tarka.

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