Presidente da Aprosoja Brasil sofre para colher a soja e estima perdas

Por conta das seguidas chuvas que a região de Canarana (MT) tem recebido, as máquinas não podem entrar em campo e ele calcula que a cada caminhão de 42 toneladas, 2 mil quilos foram perdidos

Pedro Silvestre, de Canarana (MT)
Em Canarana, no nordeste de Mato Grosso, o excesso de chuva está prejudicando a produção de soja e as máquinas não conseguem entrar no campo para terminar a colheita. Para piorar, mesmo quem conseguiu tirar parte da produção, ainda sofre com a falta de silos para armazenar os grãos.

Na propriedade do presidente da Aprosoja Brasil, Marcos da Rosa, o cenário é desolador. A lavoura de soja que estava pronta para a colheita está alagada.

“Vem chovendo durante vários dias seguidos e não conseguimos entrar para colher. Até as estradas internas da fazenda que nunca deram problemas, viraram atoleiros. A soja perdeu qualidade e peso. Em uma carreta de 42 toneladas, calculamos perdas de pelo menos 2 mil quilos. Faz parte da natureza e as noites de sono estão ficando mais curtas, em funçāo de não poder colher, das possíveis perdas de produto, os custos altos da lavoura”, relata Da Rosa.

Para tentar amenizar o prejuízo causado pelo excesso de chuvas, o representante da Aprosoja Brasil acelerou a colheita de outros 190 hectares onde a soja estava pronta. Mesmo assim, teve dificuldade de escoar a produção. Parte dos grãos foi para o silo e o restante ficou a céu aberto na lavoura.

“Não tinha onde colocar todo esse produto, mas sabíamos que tínhamos que colher, pois as previsões mostravam mais chuvas pela frente. Acabamos colocando a soja em cima de uma lona no chão, igual se fazia com arroz antigamente. Quatro mil sacos de soja no chão, com risco de perder, mas não tínhamos outra escolha”, conta. “Tá certo que logo conseguimos removê-los e mandá-los para um bolsão, mas arriscamos para evitar a soja apodrecer no campo.”

Além do prejuízo com a soja, os trabalhos da segunda safra também estão paralisados. Com o solo encharcado, o plantio do gergelim não tem previsão de ser retomado.

“Não plantamos nem três hectares até agora, porque as máquinas atolam, não vai. Imagino o sentimento de outros produtores vendo tudo isso, todo esse investimento imerso nesse lamaçal. O sentimento maior é de impotência”, garante Da Rosa.

Segundo ele, ter todo o trabalho de plantar e colher, com esses atoleiros, desgastes, noite sem dormir, máquinas quebrando e ainda ter que pagar um custo acima de 60 sacas por hectare, juntando impostos, que nunca são revertidos para melhorar a logística pós-colheita é revoltante.

“Os recursos dos impostos são mal aplicados, nem estradas nós temos. É isso que revolta o produtor. Pois quando você fica a noite sem dormir em função da natureza é um trabalho intenso, mas o homem tem que ter a competēncia, o caráter e a responsabilidade de fazer a parte dele, sem tanta gente sugando os lucros”, desabafa o presidente da Aprosoja.

De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Canarana, Arlindo Cancian, 60% da área de soja cultivada nesta safra já foi colhida. Para ele, além do excesso de chuvas, a falta de infraestrutura para armazenar os grãos, pode fazer com que a expectativa de uma boa safra se transforme em frustração para o produtor.

“Estou aqui a 40 anos e nunca vi tirar a soja e colocar em silobag, mas esse ano aconteceu devido a falta de caminhões e ao aumento da produção. O que estou percebendo é que o produtor está colhendo na medida do.possível, nem que seja com umidade, pois as chuvas podem atrapalhar o fluxo e estragar a soja”, finaliza Cancian.

Veja mais notícias sobre soja