Produtor do oeste do Paraná já pensa em comprar soja para honrar contratos

Sem chuvas, parte da soja secou e sojicultor terá que plantar milho por cima. Nos outros talhões, produtividade pode ficar 70% menor

Daniel Popov, de São Paulo
A previsão do tempo mostra a possibilidade de as chuvas voltarem para a região oeste do Paraná neste sábado, dia 15, após mais de 20 dias secos e quentes. Entretanto, a boa notícia não irá salvar todos os talhões de soja. Alguns produtores entraram em contato com a redação para dizer que parte das lavouras já secou e nem adianta tentar colher. Outros disseram que irão tentar dessecar o que der para colher alguma coisa.

Dos 600 hectares plantados com soja em Pato Bragado, Marechal Rondon, Nova Santa Rosa e Francisco Alves, o sojicultor Cévio Mengarda já perdeu 50 hectares totalmente. “A soja secou completamente, não rende mais nada ali. Posso economizar o dessecante, porque dali não sai mais nada”, comenta.

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Mengarda diz que agora terá que passar a máquina para deitar os galhos secos e assim ajustar a área para plantar milho na segunda safra. Segundo ele as perdas não estão só na soja que não foi colhida, mas na produtividade perdida nos outros talhões.

“Olha, acredito que perderei muita produtividade e a colheita deverá render 70% menos do que deveria. Temo não cobrir nem os custos com óleo diesel, com o que conseguir, sem exagero”, diz o sojicultor. “E tem alguns produtores por aqui com o mesmo problema.”

Foto: Cévio Mengarda

Segundo o gerente comercial da distribuidora de insumos agrícolas Disam, há relatos também de produtores que estão dessecando parte das áreas para tentar tirar alguma coisa. “Eles irão tentar colher algo na próxima semana, diminuir o prejuízo, né? Mesmo se chover agora, para alguns não adianta mais”, diz Cleandro Froelich.

A própria Aprosoja-PR reconhece o problema, mas ainda não consegue dizer o tamanho do estrago. “Ainda não temos um número fechado, mas dizem que por lá que 30% a 50% já está perdido. Pode ser mais, mas ainda é cedo para cravar alguma coisa. De certo só que teremos perdas”, afirma o presidente da entidade, Márcio Bonesi.

Para Nelson Paludo, presidente do Sindicato Rural de Toledo, município do oeste paranaense, as perdas já estão confirmadas, falta saber quanto será perdido apenas. “Não tenho como falar absolutamente do tamanho dos estragos. Aqui na minha região dizem algo em torno de 30%, mas temos que esperar para ver”, afirma.

Foto: Cévio Mengarda

Contratos para honrar

Apesar de não saber ainda quanto conseguirá colher, outra preocupação já ronda a cabeça de Cévio Mengarda: os contratos de vendas antecipadas. Ele ainda não sabe se vai colher o suficiente para honrá-los. “Tenho 5.000 sacas negociadas e ainda não sei como farei para honrar isso, pois renegociar contratos é algo caro e complicado”, comenta.

Uma das possibilidades levantadas pelo agricultor, caso não colha o suficiente, é “pegar” soja de outros produtores da região para honrar os contratos. “Conversei com uns amigos aqui da região, que se não conseguir o suficiente, eles me cederão o que faltar e depois compenso. Esse é um acordo entre amigos”, diz. “Na época, travei soja a R$ 80 a saca na minha região e hoje está a R$ 68, dá pra fazer. Mas preciso esperar para saber se terei que fazer isso mesmo”

O presidente do sindicato de Toledo diz que por lá não há muitas vendas antecipadas, mas alguns produtores podem ter problemas para cobrir os custos. “Essa seca e as altas temperaturas estão assustando os agricultores. Tem gente preocupada se conseguirá pagar os custos”, conta Paludo.

Foto: Cévio Mengarda

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