Produtores apostam em soja tardia mesmo com custos maiores

Sojicultores de São Paulo optam por plantar feijão primeiro, atrasando a entrada da oleaginosa, com gastos que podem ficar até 30% mais altos

Sebastião Garcia, de Paranapanema
A produção de soja está ganhando espaço nas lavouras de São Paulo, normalmente dividindo lugar com milho e feijão. Neste ano, a competição entre estas culturas gerou atraso no plantio da oleaginosa no sudoeste do estado e consequentemente aumento nos custos.

Nos últimos dez anos a área cultivada com soja no estado de São Paulo cresceu 77%, muito mais que o crescimento observado em décadas anteriores. Para se ter uma ideia, na safra 1976/1977 o estado semeava 445 mil hectares com soja e 30 anos depois, em 2007, as lavouras avançaram para 538 mil hectares (alta de 20%). Hoje, a estimativa da Companhia Nacional do Abastecimento é que o plantio com a oleaginosa chegue próximo a 950 mil hectares.

Abertura Nacional da Colheita de soja 2016/2017
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Este avanço das áreas de soja não se dá apenas em áreas novas, ou mesmo de pastagens degradadas, mas também sobre áreas de feijão. Ou melhor, dependendo da cultura que melhor pagar, o produtor acaba adaptando os períodos de plantio para obter uma rentabilidade maior. Em Paranapanema, interior do estado o engenheiro agrônomo Abel Simões, responsável por administrar a fazenda, acabou de colher o feijão que plantou inicialmente e já cultivou soja e milho no lugar.
Mas, a tarefa não foi fácil, já que devido ao tempo frio prolongado o plantio do feijão atrasou, consequentemente, a colheita e o plantio da soja e do milho também. “Apostamos mais no feijão, optando por entrar com a soja mais tarde”, afirma Simões.

A estratégia de plantar a oleaginosa mais tarde tem suas consequências. Uma delas é o risco de aparecerem mais pragas e doenças, elevando os custos com agroquímicos para controle. Na propriedade em que Simões administra, a estimativa é gastar pelo menos 30% a mais com aplicações de produtos para controle destes males, incluindo a temida ferrugem asiática, ou a mosca-branca cuja proliferação é favorecida pelo tempo quente e úmido atual. “O plantio da soja aconteceu muito próximo a colheita do feijão. Com a ferrugem já instalada em diversas áreas, a pressão desta doença será maior”, diz o engenheiro agrônomo. “Como entramos tardiamente com a soja, temos que tomar mais cuidados com ela, mesmo sabendo que não atingiremos o teto produtivo.”

O mesmo acontece em pelo menos metade das áreas com feijão da região, afirma a Cooperativa Agroindustrial Holambra, instalada no município. Mesmo com a expectativa de que a escolha pelo feijão baixe a media de produtividade da soja na região, o presidente da empresa, Simon Veidt, ainda considera a estratégia boa. “Neste plantio mais tardio o objetivo principal era fazer uma boa receita com o feijão”, reitera ele.

A produtividade da soja na região, mesmo com a redução produtiva esperada, chega a 67 sacas por hectare. Ou seja, nos 37 mil hectares cultivados com a oleaginosa, a expectativa é colher quase 2,5 milhões de toneladas neste ano. “Nesta soja mais nova teremos o desafio de controlar as pragas e doenças. Os produtores daqui garantiram a rentabilidade, já que 40% da soja foi comercializada antecipadamente com a cotação boa”, comemora Veidt.

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