Soja: analistas apostam em fortes oscilações nos preços nesta safra

Para eles, os produtores terão que melhorar os métodos de comercialização se quiserem obter uma boa rentabilidade

Henrique Bighetti, de São Paulo
A divulgação do relatório mensal de oferta e demanda do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, provocou queda de 3% nas cotações da soja na Bolsa de Chicago. E a disputa comercial entre China e Estados Unidos, aliado a instabilidade climática, devem provocar volatilidade nos preços do grão nos próximos meses.

O relatório foi considerado conservador pelo mercado. Na estimativa americana, a safra de soja na Argentina, foi reduzida para 47 milhões de toneladas, contra 54 milhões projetadas em fevereiro.Já a Bolsa de Cereais de Buenos Aires estima 42 milhões de toneladas com possibilidade de novos cortes nos próximos meses. O USDA também revisou para baixo os estoques finais argentinos. A previsão é de 32,2 milhões de toneladas.

“Essa quebra na Argentina abre também espaço para o fornecimento do grão, pois além de fornecer grandes volumes de derivados de soja, como farelo e óleo, também vende grãos. Então com a quebra na produção, a Argentina deverá se concentrar no esmagamento e diminuir sua participação na exportação do grão, o que abre espaço para Brasil e, até os Estados Unidos, entrarem forte nesse mercado”, explica o analista de mercado da Informa Economics, Aédson Pereira.

Outro ponto do relatório que pegou o mercado de surpresa foi a estimativa de queda das exportações de soja dos Estados Unidos. Segundo o departamento, os embarques americanos devem ficar abaixo de 57 milhões de toneladas. No último levantamento a previsão ultrapassava 59 milhões de toneladas.

Para o analista o que vai definir os preços da soja nas próximas semanas são as exportações dos Estados Unidos. Até agora, os embarques norte-americanos referentes à safra 2017/2018 totalizaram 48 milhões de toneladas, resultado inferior em comparação ao mesmo período do ano passado. Mas ainda assim é o segundo maior volume da história.

“Temos observado semanalmente uma retomada gradativa das vendas de soja dos Estados Unidos ao mercado externo, o que já dá um sinal de que o USDA perdeu um pouco do tempo, para apontar um cenário mais positivo para as exportações norte-americanas. Caso haja recuperação das exportações norte-americanas, nós não acreditamos que a soja tenha força para cair com mais intensidade”, conta Pereira.

Além da estimativa de redução nas exportações da soja americana, outro fator pode favorecer os preços no mercado interno: a disputa comercial entre China e Estados Unidos. Para o diretor da FC Stone, Glauco Monte, se o país asiático taxar as exportações de soja norte-americanas, o produto brasileiro pode ganhar mais espaço com o apetite chinês.

“Basicamente poderia deslocar a demanda para o Brasil. Isso traria um aumento no prêmio pago nos portos, devido o aumento da demanda. Em contrapartida, os Estados Unidos exportando menos por causa dessa situação, sobraria mais estoque por lá e isso teria um impacto sobre as cotações de Chicago e consequentemente nos preços internacionais”, diz Monte.

O analista orienta ainda que o produtor se prepare para uma safra de oscilação de preços. reflexo da instabilidade climática combinada com as variações na taxa cambial brasileira.

“Recomendo ao produtor trabalhar com as ferramentas de proteção de mercado que possam dar flexibilidade e segurança a ele na comercialização, porque podemos ter grandes altas e baixas de preço daqui para frente”, afirma.

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