Soja: preço médio no Brasil atinge maior patamar em 2 anos, mas maré pode virar

Embate entre China e Estados Unidos, eleições no Brasil e acordos comerciais ineficientes podem mudar todo o panorama de preços do segundo semestre

Daniel Popov, de São Paulo
O mês de julho confirmou as expectativas e fechou com os mais altos preços médios para a soja dos últimos dois anos. A razão ainda é o embate comercial entre China e Estados Unidos, que ajudou a elevar os prêmios no país. Mas, segundo o analista Luiz Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado, algumas variáveis podem mudar tudo, derrubar os preços e atrapalhar as exportações. Outro alerta é sobre a dependência brasileira das exportações de oleaginosa para a China.

O preço médio pago pela soja no porto de Paranaguá (PR) foi de R$ 88,4 por saca em julho, contra os R$ 84,6 do mês anterior. Valor como este não é visto no país desde julho de 2016. Mais distante das regiões costeiras, em Dourados, no Mato Grosso do Sul, a saca foi negociada a R$ 76,6, também o maior em dois anos.

“Esses preços ainda são reflexo do embate entre China e Estados Unidos. A tendência é que a soja siga valorizada no Brasil em agosto, a menos que estes dois países entrem em um acordo, ai muda tudo, os preços voltam a subir em Chicago e os prêmios caem no Brasil”, conta Gutierrez. “Sem o acordo entre eles o preço da soja dificilmente ultrapassará os US$ 9 por bushel e os prêmios por aqui seguirão mais elevados para compensar.”

O analista ressalta no entanto, que apesar de parecer que um possível acordo mudaria pouco a vida dos brasileiro, isso poderia acarretar em uma queda nos embarques para a China no 2º semestre. “Se isso acontecer, o Brasil exportará menos e o excedente fará os preços internos despencarem”, destaca Gutierrez.

Além da guerra comercial outros fatores podem interferir nos preços brasileiros, como o câmbio e as eleições, que estão relacionados entre si. “Não vejo razões para os preços caírem no país este ano, pois o câmbio deve seguir elevado até as eleições o que ainda é vantajoso para as exportações”, conta. “Outra coisa é a questão dos fretes que se resolvida abrirá espaço para um preço melhor no Brasil.”

Brasil dependente da China

Para o analista, a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos empurrou o Brasil para uma situação desconfortável: a dependência de a China comprar quase toda a safra brasileira de soja. “Se por um lado vendemos mais e, a preços elevados, por outro o país se colocou na posição de espectador dos acordos comerciais entre os países, como o ocorrido entre os Estados Unidos e a Europa”, conta.

Guardada as devidas proporções e diferenças, algo assim foi vivido com a Rússia, que já era o principal mercado importador das carnes brasileiras, aumentou os volumes repentinamente e depois cortou os acordos sob alegação de problemas fitossanitários, que escondiam na verdade outros interesses como o fortalecimento do setor pecuário do próprio país. Na época, os representantes brasileiros do setor correram para tentar buscar novos acordos internacionais para enviar a produção excedente. O resultado foi uma queda dura nos preços e pecuaristas com problemas.

“Por enquanto o Brasil está se beneficiando disso, mas o certo era se movimentar para fechar novos acordos para a soja, aproveitar que muitos países já estão negociando no momento. Não podemos esperar e depois que a crise se instalar, correr atrás de novo”, conta Gutierrez. “É preciso se antecipar para evitar uma crise no setor que mais gera renda ao país.”

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