Soja: preço sobe devido ao clima na Argentina e analista diz até quando isso deve durar

Entenda o que está elevando os preços, até quando isso pode durar e a melhor estratégia para garantir uma boa comercialização

Mesmo com muita dificuldade no início da safra, a produção brasileira de soja pode ser recorde nesta temporada. Essa oferta maior fez as negociações do grão diminuírem ao longo do ciclo, chegando em um patamar menor do que o do ano passado. Só que para analistas, as altas recentes na Bolsa de Chicago e no dólar devem trazer boas oportunidades de negócio.

Atraso no plantio e na colheita, clima complicado e doenças estão entre os problemas desta temporada. Ainda assim, boa parte das consultorias apostam em safras acima de 111 milhões de toneladas. Dos 35 milhões de hectares de soja cultivados nesta safra, apenas 9% já foram colhidos. O excesso de chuvas tem dificultado os trabalhos de campo em várias regiões do país.

“Mato Grosso não está muito atrasado, pois tem conseguido colher nos períodos sem chuvas. Mas no Paraná, que é o segundo maior produtor, está com fortes atrasos. Outros estados como Goiás, Minas Gerais e Estados do Matopiba ainda estão no começo da colheita e os atrasos não foram tão grandes nesses estados, já que o plantio ocorre mais tarde”, diz a analista de mercado FCStone, Ana Luiza Lodi.

Apesar dos problemas a consultoria elevou a estimativa da safra brasileira de soja para 111 milhões de toneladas, número próximo ao da última safra. Já a consultoria Safras & Mercado acredita que a produção vai ser de 115 milhões de toneladas. Se for confirmada, vai ser a maior safra da história.

“Essa combinação de uma área grande, com a possibilidades de produtividades normais ou um pouco acima da média de várias safras nos leva a essa projeção. Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul estão apontando para produtividades mais altas que no ano passado, por exemplo”, diz o analista Luiz Fernando Gutierrez.

Comercialização atrasada

Até o início de fevereiro, 34% da safra brasileira de soja já tinha sido comercializada./ na mesma época do ano passado, os números chegavam a quase 40%. Analistas acreditam que as negociações devem ganhar força nas próximas semanas, ainda mais com a recuperação dos preços na Bolsa de Chicago e da alta do dólar, que voltou a operar acima dos R$ 3,30, algo que não acontecia desde dezembro do ano passado.

“Desde a sexta-feira da semana passada, dia 9, os preços subiram 4%, saindo de US$ 9,83 e chegou a US$ 10,21 nesta sexta-feira. Isso é muita coisa, não é normal”, garante Gutierrez. “Acreditamos que isso é reflexo do expectativa do mercado em relação ao clima da Argentina. O tempo por lá não está bom e não há previsão de melhora para os próximos dias. Acredito que com isso as perdas estão aumentando, ainda é difícil saber o tamanho disso ainda, mas já tem gente falando e de quebra de 10 milhões.”

O que esperar da safra Argentina

Gutierrez explica que o mercado já havia considerado uma quebra de 5 milhões na Argentina, fato que não elevaria tanto os preços. Mas, considerando perdas maiores, acima de 10 milhões, a coisa já muda de figura. “Nenhuma superprodução brasileira seria capaz de suprir essa quebra. Eu acho exagero esse tamanho de quebra, mas temos que esperar para ver o que vai acontecer”, diz o analista.

Perdas no Brasil?

Os problemas para colher e também durante a safra são serão capazes de diminuir a produtividade brasileira, aponta o analista. “Nossa consultoria não está prevendo perdas no Brasil. Se tiver será algo bem pontual, mas nada que afete a produção de maneira geral. Acredito que safra brasileira será cheia, acima de 115 milhões, com recorde de produtividade em Goiás e Minas Gerais”, diz gutierrez.

Expectativa de preços

Segundo os analistas o clima da Argentina é que está gerando estas altas nos preços, mas acham difícil prever até quando isso deve durar, até porque se o clima melhorar quebra diminui e os preços voltarão a cair.

“Essa incerteza sobre a colheita argentina pode durar até março e levar com ela, os preços. O produtor tem que ir aproveitando essas altas agora, não vale a pena ficar esperando altas ainda maiores, porque se não vier, teremos muita soja para vender ao mesmo tempo”, conta Gutierrez.

Ele não acredita que os valores terão fôlego para se manter em alta até meados de maio, devido o final da safra brasileira e abertura da temporada americana. “O momento está interessante para vender e isso deve perdurar nas próximas semanas. Agora dizer que em maio o preço estará alto é muita especulação. Até porque abril e maior terá a pressão da colheita finalizando no Brasil e Estados Unidos mostrando quanto irão plantar”, diz.

Câmbio pode ajudar

Para o economista Fábio Silveira, a taxa de câmbio deve operar acima dos R$ 3,35 ao longo do ano. Valor acima da média de 2017 que foi de R$ 3,19. Segundo ele, é a valorização da moeda norte-americana é que vai garantir sustentação nos preços da soja no mercado brasileiro.

“A alta do dólar no Brasil deve-se fundamentalmente a problemas que atinge fundamentalmente a economia dos Estados Unidos, onde o Trump aumentou o déficit fiscal deste ano e deve-se também ter uma elevação da inflação americana o que aponta para alta de juros nos Estados Unidos nos próximos meses”, conta Silveira.

A valorização da moeda americana também deve estimular as exportações. Para o analista da Safras & Mercado, as vendas do grão para o mercado externo devem manter o resultado de 2017, quando o Brasil enviou 68 milhões de toneladas de soja ao exterior.

“Temos todo o potencial e estrutura para exportar isso. Já mostramos na safra passada que podemos vender até mais do que isso. Temos agora o apoio muito importante, cada vez mais fundamental, dos portos do Norte do país, que nós ajuda muita a escoar a produção”, finaliza Gutierrez.

Veja mais notícias sobre soja