Sojicultor brasileiro paga até 150% mais por royalties da Intacta que seus vizinhos

Na última safra, a Argentina pagou cerca de US$ 16 por hectare semeado com soja RR2 e, no Paraguai, o custo foi de até US$ 25. Já no Brasil, o valor salta para US$ 40 por hectare

Roberta Silveira, de Cruz Alta (RS)
Uma desconfiança antiga dos produtores de soja do país foi confirmada agora. O Brasil paga mais que seus vizinhos pelo royalty da semente Intacta, da Monsanto. A diferença entre os valores chega a 150% a mais. Para ajudar a entender como isso funciona e o porque desta disparidade o Canal Rural produziu uma série de três episódios, destacando a situação no Brasil, Argentina e Paraguai.

Hoje, 20 milhões de hectares de soja são semeados com sementes Intacta (conhecida RR2) na América do Sul. Boa parte disso, no Brasil, onde 170 mil produtores já usam a tecnologia de controle de lagartas desenvolvida pela empresa Monsanto. Apesar de ser o principal mercado para a tecnologia na América Latina, “o maior cliente” não leva nenhuma vantagem e ainda paga mais que os seus concorrentes.

Na safra 2016/2017, a Argentina pagou cerca de US$ 16 por hectare semeado com Intacta. No Paraguai o custo ficou entre US$ 21 e US$ 25 por hectare. Já no Brasil, o valor salta para nada mais, nada menos que US$ 40 por hectare (R$ 129 na cotação atual). Ou seja, o produtor brasileiro paga quase 150% mais que o argentino e até 90% mais que o paraguaio. “Por que para nós é tão caro. Enquanto nos outros países paga-se menos. Por que isso acontece?”, indaga o produtor de Cruz Alta, Rio Grande do Sul, Alceo Bandera.

A gerente de negócios de soja da Monsanto no Brasil, Malu Nachreiner não concorda com a comparação entre os países. Para ela, é preciso levar em conta o modelo de negócios e a forma de cobrança que são diferentes em cada país. “Não é correto afirmar nem que é mais barato, nem que é mais caro. Existem muitos estes elementos jogando em conjunto quando se determina a precificação de um produto em um determinado país. E isto não é só para a soja. É pra todos os insumos”, afirma a executiva.

Apesar das explicações da empresa o produtor Lucas Costa Beber, de Nova Mutum, em Mato Grosso, não concorda com as razões colocadas. “Como produtor e cliente falo que o preço cobrado hoje não é justo”, rebate.

Por sua vez, o presidente da Associação dos Produtores de Soja do Brasil (Aprosoja Brasil), Marcos da Rosa, afirmou que os produtores estão muito dependentes desta tecnologia única e por isso acabam pagando o que a empresa pede. “Já conversamos com a Monsanto informalmente e as respostas não foram satisfatórias. Agora estamos cobrando publicamente uma explicação”, diz Da Rosa.

Como é feito o pagamento no Brasil

O pagamento deste royalty pode ser realizado de duas maneiras:

A primeira é fazer isso na compra das sementes. Neste caso, os argentinos pagam aqueles US$ 16 por hectare, os paraguaios de US$ 21 a US$ 25 por hectare e os brasileiros US$ 40 por hectare.

A segunda opção é na moega, ou seja, na hora de entregar a produção. Sendo assim, na Argentina é cobrado US$ 15 por tonelada e no Paraguai US$ 16 por tonelada. No Brasil, a cobrança é realizada de outra maneira, 7,5% sobre o preço da tonelada. Então vamos a uma continha básica:

Vamos considerar o valor pago pela saca em Rondonópolis (MT), que normalmente é um dos lugares com preço mais baixo no país, RS 58,5. E um câmbio de US$ 3,10 (abaixo da cotação atual).

Para obter uma tonelada são necessárias 16,6 sacas de 60 quilos de soja, que multiplicadas por R$ 58,5, resultam em um montante de R$ 971 por tonelada de soja. Convertendo isso para o câmbio acima, o resultado é de US$ 313,22 por tonelada. Se retirar deste valor em dólar os 7,5% referentes ao royalty, o produtor pagará a Monsanto US$ 23,49 por tonelada.

No Brasil, mais de 90% dos royalties são pagos na semente. “O produtor está sempre aberto para novas tecnologias. Sempre investindo no melhor possível. Mas, dentro de uma realidade que seja viável para os dois lados. Não pode ser só pra um lado”, afirma o sojicultor de Nova Mutum.

Problemas neste sistema

Imagine comprar as sementes RR2, pagar o valor do produto e os royalties, mas na hora de entregar na moega ser cobrado novamente? Este tipo de coisa aconteceu o produtor de Cruz Alta (RS), Alceo Bandera. “Eu tinha créditos por ter pago na semente, mas quando fui entregar a soja o sistema dizia que eu não tinha nada. Aí fui ver o que estava acontecendo e recebi a resposta que meus créditos foram cancelados”, explica Bandera. “Agora estou peleando para me devolverem isso.”

Por sua vez, a Monsanto afirmou que possui canais de contato para reclamação e informação, exclusivos para os agricultores que usam a Intacta. “Neste caso, que chamamos de segregação de silo, para poder fazer a mistura dessas tecnologias no seu próprio silo,  eventualmente se ele tiver uma produção adicional, além daquela do volume de isenção concedida, ele pode solicitar um volume de isenção adicional”, explica André Buran, líder comercial de soja da Monsanto.

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