Tem produtor ganhando até R$ 30 a mais por saca de soja convencional

Em tempos difíceis como o atual, no qual as cotações da oleaginosa estão abaixo do esperado, o cultivo convencional pode ajudar o produtor a melhorar sua margem de lucro

Sebastião Garcia, Diamantino (MT)
Muito se comenta sobre a importância de se produzir a soja convencional como uma alternativa ao produtor brasileiro. Atualmente ela tem demanda, possui boa produtividade, custo menor e ainda paga melhor. Mas, porque muitos produtores ainda não cultivam parte de suas áreas com ela? Tem produtor ganhando até R$ 30 a mais por saca com ela.

O maior consumidor de soja do mundo, a China, segue ampliando sua demanda pela oleaginosa. Ao que tudo indica, mais especificamente por grãos convencionais já que boa parte da população tem algum preconceito contra os transgênicos. Uma pesquisa da Nielsen, divulgada pela Reuters mostrou que no ano passado cerca de 70% dos consumidores da China limitaram ou evitaram pelo menos algumas comidas ou ingredientes, frente à média global de 64%, com 57% deles afirmando que transgênicos são indesejáveis.

A reportagem ainda cita que as vendas do setor têm sido afetadas por conta disso. As comercializações de óleo de soja em supermercados caíram 1% no ano passado, para US$ 5,19 bilhões, contra um crescimento entre 2% e 6% entre os óleos alternativos, como o de girassol amendoim ou gergelim. Boa parte da soja transgênica importada do Brasil e dos Estados Unidos é usada para a fabricação deste óleo que está perdendo mercado na China.

Se a demanda por soja da China tem crescido, a busca pelo produto convencional então, nem se fala. De olho nisso e também em melhorar a renda do sojicultor brasileiro o programa Soja Livre, criado em 2009, tem ampliado as áreas com a soja sem transgenia. Hoje, 10% da produção de soja em Mato Grosso é convencional, ou seja, 3 milhões de toneladas.

O jovem agrônomo Wininton Mendes é um defensor desta ideia. Segundo ele, plantar soja convencional é tão vantajoso ou até mais do que plantar a transgênica. As pesquisas comprovam isso, diz Mendes, que é o coordenador do programa Soja Livre em MT. “O nosso trabalho é baseado em pesquisa e transferência de tecnologia. Temos 12 campos de experimento em todo o estado de Mato Grosso”, explica ele. “O programa não é contra a tecnologia transgênica. Acreditamos que as duas tecnologias tem que coexistir a serviço do produtor.”

Exemplo de que isso é possível e vantajoso pode ser visto na propriedade de Roger Augusto Rodrigues. Na última safra ele dividiu sua área certinha, meio a meio e conhece bem as vantagens e desvantagens de trabalhar com uma e com outra. Para quem duvida, a produtividade dele chegou a 85 sacas por hectare na convencional. “A produtividade dela é boa, bate de frente com as RR e com a Intacta”, conta o produtor.

O prêmio pago ao produtor de soja por esta soja convencional é outro ponto extremamente positivo. Especialistas e produtores garantem que o prêmio vale muito a pena, já que os compradores são exigentes e pagam por isso.

Hoje, o mercado europeu está exigindo 100% de soja convencional para alimentação humana e para alimentação animal. O mercado da Rússia também faz exigências e a China também é um mercado que este ano sinalizou uma grande demanda pela soja convencional para consumo interno, como descrito no início da matéria. “Esta demanda externa pela soja convencional tem promovido o pagamento de um bônus para o produtor que tem variado entre R$ 8 a R$ 30 a mais por saca de soja. Essa é uma grande motivação para o plantio desta soja”, explica Mendes.

O produtor Rodrigues também aprova esta opção a mais para minimizar efeitos de mercado como os atuais, que o preço da cotação internacional da soja está próximo aos custos. “Enquanto as tradings pagarem um premio que valha a pena este trabalho, este esforço
aqui no campo, iremos plantar. É uma renda a mais. E acho que não se abre mão disso aí”, diz o sojicultor de Diamantino (MT).

Limitadores

Nem tudo são flores também. Segundo o produtor Rodrigues a oferta de sementes convencionais é um pouco mais restrita que as trangênicas, encontradas em qualquer sementeira. “É um pouco mais restrita dos que as variedades com tecnologias, mas
existe no mercado. Estão aí, é só se programar”, garante ele.

Outro desafio está no manejo da soja convencional, já que o controle de pragas e plantas daninhas precisa ser realizado cuidadosamente. “Nós temos pouco desenvolvimento de moléculas novas para o controle de plantas, por exemplo. Mas, nada que não possamos resolver rapidamente com o manejo”, diz Rodrigues.

Por fim, o último desafio é a armazenagem, já que a soja convencional precisa ficar separada da transgênica. Mas, em época de super oferta de soja, como o atual, muitos produtores não tem onde guardar esta soja e os armazéns acabam priorizando a transgênica. Em uma reportagem recente, alguns produtores chegaram a aguardar até dois dias em frente ao armazém buscando uma oportunidade para descarregar a convencional. Como não deu certo, acabou entregando esta soja como se fosse transgênica, perdendo o prêmio.

Leia a matéria na integra:
Falta de armazéns para soja convencional faz produtor entregar grão como transgênico

O presidente da Aprosoja Mato Grosso, Endrigo Dalcin ressalta que resolver este problema de armazenagem é uma das prioridades da entidade, principalmente estocagem desta soja convencional. “Temos poucos armazéns gerais que podem receber a soja convencional e ficamos na dependência das grandes tradings. Precisamos avançar muito nesta questão, nos financiamentos e desburocratizar um pouquinho o acesso a estes créditos”, conta ele.

Com informações de Reuters e Aprosoja

Veja mais notícias sobre soja

chamada whatsapp