Um terço da safra 15/16 será com soja pirata

Dado é da associação dos produtores de sementes, que alerta para o fim de investimentos das empresas em novas tecnologias se a pirataria continuar a crescer

João Henrique Bosco | Foz do Iguaçu (PR)

O índice cada vez maior de pirataria de sementes de soja pode afugentar do país empresas que investem em tecnologia. As consequências são desastrosas para a agricultura. A estimativa é da Associação Brasileira dos Produtores de Sementes de Soja (Abrass), que já acenderam a luz vermelha. Quase um terço desta safra 2015/2016 deverá ser cultivada com sementes piratas.

A pirataria vem aumentando gradativamente na medida em que cresce a tecnologia. Prejuízo para os sementeiros que plantam adotando exigência de qualidade, pagando royalties e impostos em dia.

– O pirata tem uma margem, pelo menos, o dobro em ganho no resultado final do que nós que estamos legalmente constituídos. O usuário disso está dando um tiro no pé. Sem royalties não há recursos para que novas tecnologias sejam feitas por diferentes multinacionais, nacionais e a própria Embrapa – critica o produtor de sementes Carmélio Romano Ross.

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Em países como a Argentina, o nível de de soja pirata já alcançou 70%, um índica praticamente inviável para as empresas detentoras de tecnlogia. No Brasil, para esta safra a expectativa é de que o mercado clandestino alcance 30%. A pergunta é: até quando vai valer a pena para as empresas continuar investindo em tecnologia?

– As empresas estão deixando a Argentina, deixando de pesquisar lá. O país corre sério risco de ser abanadonado pelas empresas de pesquisa. No Brasil, a gente tenta frear isto aí. A gente tenta conscientizar o produtor que é uma economia a curto prazo, mas a longo prazo é um tiro no pé, porque ele está deixando de incentivar a pesquisa – comenta o presidente da Abrass, Marco Alexandre Bronson e Souza.

Para o produtor que entra neste mercado clandestino, o barato pode custar caro, alerta Souza.

– Quando chegar na moega para descarregar o produto dele, será feito um teste para ver se ele utiliza a tecnologia Intacta, se não tiver nenhuma nota fiscal, descontando 7,5%, sem choro. Ele vai ver que a economia que ele está fazendo agora vai sair mais caro – explica o presidente da Abrass.

Proteção

Um outro mecanismo de segurança para as empresas e que ainda é proibido pela legislação brasileira são as tecnologias de proteção de genes, as chamadas GURTS (Genetic use restriction technology) ou restrição de uso da tecnologia genética, já utilizadas nos Estados Unidos.

– Por exemplo, uma empresa vende a semente com a característica X, o produtor vai lá e planta. Se ele for pegar aquele grão que ele colheu e tentar usar como semente pode não funcionar se a empresa usar esta estratégia de proteção – afirma o pesquisador da Embrapa Alexandre Nepomuceno.

Até lá, a caminhada é longa. Por enquanto é preciso conscientização, fiscalização adequada e torcer para que em um momento tão delicado a pesquisa tecnológica não abandone quem mais precisa dela.

– Acaba inibindo, porque você para a remuneração daquilo que foi gerado, anos de pesquisa e de investimentos para uma comunidade, onde o próprio impacto negativo será para os agricultores, porque estas empresas não vão investir mais para o futuro e nem contribuir para mais competitividade na agricultura – alerta o gerente de Marketing e Produto da BASF, Fernando Arantes Pereira.

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