USDA projeta a maior safra de soja da história e preços devem cair ainda mais

Cotações caem 3% e, segundo analistas, tendem a recuar ainda mais. Com câmbio desfavorável, situação do sojicultor que precisa vender complica bastante USDA

Daniel Popov, de São Paulo
Se a situação do sojicultor brasileiro já estava ruim em relação a rentabilidade da cultura, com a previsão de uma nova safra recorde de 119 milhões de toneladas nos Estados Unidos, as cotações vieram abaixo. Recuaram 3% em um dia ficando em US$ 9,34, no contrato de setembro. O mercado, que apostava exatamente na situação contrária, acredita que as cotações devem cair ainda mais nos próximos dias.

Esta notícia nem o mercado previa. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos elevou as perspectivas de produção e de estoques da oleaginosa, não só no país, mas no mundo. Por causa disso, todos os contratos de soja negociados na Bolsa de Chicago caíram bastante. O vencimento de setembro, usado como referencia para o mercado físico brasileiro, abriu o dia valendo US$ 21,3 por saca e fechou com um recuo de 2,9%, a US$ 20,5 por saca.

Uma movimentação negativa como esta foi registrada na metade de julho, quando as cotações que operavam acima de US$ 22,4 por saca, caíram para US$ 21,6, num único dia. “O USDA surpreendeu de novo. Enquanto todos esperavam um corte até mesmo pequeno, por conta do clima adverso nos Estados Unidos, a entidade apresenta um aumento de quase 4 milhões de toneladas. O mercado se assustou frente a isso”, diz o analista Fernando Gutierrez, da Safras & Mercado.

Segundo o analista a tendência agora é forte queda nas cotações, podendo chegar rapidamente a cotações na casa dos US$ 19,8 por saca (US$ 9 por bushel). “Agora é ficar de olho, o clima tende a ficar melhor em agosto, favorecendo a produtividade e o mercado naturalmente vai cair. Chicago testará os US$ 9 por bushel em breve. Não tenho como dizer quando, mas isso pode acontecer logo”, afirma Gutierrez.

Ele explica que o peso do relatório do USDA é enorme sobre o mercado, o principal aliás. E depois de algumas mudanças drásticas de expectativa e do que foi divulgado, parte do mercado já começa a colocar em xeque estes números. “Existe uma parte do mercado que coloca em dúvida a metodologia do USDA. Eu não sei dizer o que anda acontecendo, mas também acho que eles realmente estão agindo estranhamente”, afirma.

Relatório do USDA

A produção 2017/2018 dos Estados Unidos foi elevada de 115,9 milhões de toneladas, para 119,2 milhões de toneladas. No ano anterior, a produção ficou em 117,2  milhões de toneladas. O mercado apostava em número de 114,4 milhões de toneladas.

Os estoques finais em 2017/2018 foram projetados em 12,9 milhões de toneladas. O mercado trabalhava com um número de 11,6 milhões de toneladas. Em julho, a estimativa era de 12,52 milhões de toneladas.

Para as reservas de 2016/2017, o USDA cortou a projeção de 11,16 milhões de toneladas para 10 milhões de toneladas). O mercado projetava estoques de 10,9 milhões de toneladas.

O USDA projetou safra mundial em 2017/2018 de 347,36 milhões de toneladas. No relatório anterior, o número era de 345,09 milhões. Os estoques finais foram elevados de 93,5 milhões de toneladas para 97,7 milhões. O mercado apostava em estoque de 93,5 milhões de toneladas.

Na temporada 2016/2017, a produção mundial está projetada em 351,74 milhões, com estoques finais de 96,9 milhões, contra 94,8 milhões do mês anterior. O mercado apostava em estoques de 92,2 milhões.

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