Veja algumas dicas para produzir soja orgânica, que chega a valer R$ 102 por saca

Inicialmente custo é um pouco maior que o da produção sem uso de transgênicos e agroquímicos, mas rentabilidade é bem maior. Adequação ao sistema e certificação levam três anos

O consumo de produtos orgânicos segue em crescimento no país e a produção já atinge aproximadamente 653 mil hectares, segundo dados da Coordenação de Agroecologia (Coagre), vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Assim como os já campeões em vendas tomates e folhas, a soja está conquistando não só os consumidores, mas também os agricultores, que chegam a receber quase o dobro do valor pela soja orgânica do que recebem pela produção tradicional.

Cultivada sem o uso de produtos como herbicidas, fungicidas e inseticidas, a soja orgânica é um bom investimento afirma a consultoria Enexxas Agribusiness, alguns produtores conseguem receber até o dobro do valor pago na produção convencional.

“Os negócios que saíram semana passada mostram isso. Tem soja que saiu em Goiás para comprador de Ribeirão Preto por R$ 102 por saca. Esses prêmios que a gente está falando são reais e atuais e não são uma tendência de futuro, já são praticados há alguns anos”, conta o presidente da Enexxas Agribusiness, Rodrigo Iafelice dos Santos.

Apesar de muito se falar que os custos de produção deste tipo de cultivo ser mais baixo que a soja convencional ou transgênica, Santos explica que inicialmente não é mais barato não. “O custo varia muito conforme o clima, o solo e a localização. Nos Estados Unidos, o custo já foi 13% mais baixo que a soja e milho transgênicos, na média, mas no Brasil, com base nos testes que fizemos, o primeiro ano tem um custo de 10% a 15% mais alto e a produtividade parecida com os atuais”, diz.

Segundo o presidente da Enexxas Agribusiness o Brasil será um dos maiores fornecedores de matéria prima para ração orgânica para os grandes produtores de proteína animal do planeta. “Sendo o Brasil o maior produtor de proteína animal do planeta, obviamente vamos ter mais capacidade de exportar produto com maior valor agregado e também no nicho da alimentação humana que tem valor mais alto”, diz.

O Brasil já exporta boa parte da soja orgânica para o exterior, segundo a coordenadora de Agroecologia e Produção Orgânica da Coagre, Virgínia Mendes Cipriano Lira. Entretanto, esses dados não estão disponíveis devido a uma falha no sistema de exportação do governo brasileiro. “Não há esse controle no Brasil, toda a soja orgânica exportada sai como normal no sistema do governo. por isso não sabemos quanto sai daqui para o fora”, afirma.

Apesar das dificuldades essa pode ser uma boa solução para diversificar os negócios, produzindo boa parte da soja tradicional e uma pequena parte como orgânica para agregar valor. “A regra no Brasil é que o processo de conversão leva um ano e nesse um ano você pode vender a mercadoria como não transgênica, portanto já tem um prêmio sobre a transgênica. No segundo ano pode vender para o mercado europeu e no terceiro para o mercado americano”, conta o executivo da Enexxas Agribusiness.

Veja as dicas abaixo

Tecnologias necessárias

Cultivares de soja para sistemas de base ecológica

Nos sistemas de base ecológica pode ser usada qualquer cultivar de soja, desde que não seja transgênica. Na escolha da cultivar deve-se levar em conta o objetivo da produção e as condições da propriedade para essa produção, observando o ciclo da cultivar, a cor do hilo e a reação a doenças. Cultivares de ciclo precoce são indicadas para facilitar o manejo da ferrugem asiática e dos percevejos. A cor do hilo é importante no caso de produção voltada para alimentação humana, nesse caso deve-se preferir cultivares que possuam hilo claro (amarelo ou marrom-claro). Não se tem notícia de materiais crioulos de soja, mas há cultivares comerciais com resistência a algumas doenças e essas devem ser preferidas. A Embrapa Soja desenvolveu cultivares especiais para alimentação humana. Elas possuem o hilo claro e o sabor suave.

Fixação biológica de nitrogênio (FBN) – uso de inoculantes

Muitas plantas da família das leguminosas (fruto tipo legume ou vagem) são capazes de se associar a bactérias benéficas (“rizóbios”) para receber o nitrogênio que precisam. Essas bactérias podem ser introduzidas no cultivo pelo uso de inoculante na semente, que é o produto que carrega essas bactérias. Essas bactérias formam nódulos nas raízes das plantas, onde captam o nitrogênio do ar e o transformam numa forma assimilável pela planta. A inoculação deve ser feita todo ano tomando alguns cuidados: realizar a inoculação à sombra e protegida do calor excessivo; semear logo após a inoculação; se o inoculante for turfoso umedecer a semente com solução açucarada a 10% para melhorar a aderência (300 mL/50 kg de sementes); aplicar cobalto e molibdênio via foliar. Também há inoculante para milho e trigo, mas nesse caso, a bactéria (Azospirillum) auxilia na promoção do crescimento das plantas por outros mecanismos.

Armadilha para captura de percevejos em soja

Uma estratégia que pode auxiliar no manejo dos percevejos em soja é o uso de armadilhas com urina bovina. Essas armadilhas são confeccionadas utilizando garrafas plásticas tipo pet de 2 litros com aberturas no terço mediano da garrafa. Essas aberturas podem ser feitas mais acima para aumentar o intervalo de reabastecimento das armadilhas. É utilizada uma solução de urina bovina + sal de cozinha, nas proporções de 3 L de urina e 500 g de sal, dissolvidos em 7 litros de água. É indicado que as armadilhas sejam vistoriadas periodicamente para a retirada dos insetos já capturados e reposição da solução, que deve estar 2 cm abaixo das aberturas da garrafa, evitando a fuga de novos percevejos atraídos e capturados. As armadilhas devem ser colocadas desde o início do cultivo da soja, preferencialmente nas bordaduras, penduradas em estacas ou no chão, de 50 m em 50 m.

Como conseguir a certificação

A certificação orgânica é baseada em fatores econômicos, ambientais e sociais, de acordo com parâmetros regionalizados. As empresas certificadoras exigem que os produtores cumpram a legislação trabalhista e ofereçam condições dignas de trabalho. Também são considerados o relacionamento com empregados, a preservação do ambiente e o retorno financeiro na comercialização de produtos.

Para ser considerado orgânico, o alimento deve conter um selo de garantia emitido por uma empresa certificadora. Esse selo indica que o produto foi cultivado dentro dos mais rigorosos critérios de controle de qualidade. Um produto certificado permite identificar a região onde foi produzido, quais os produtores envolvidos na produção e saber se foram seguidas as diretrizes internacionais de certificação orgânica. Normalmente, o custo da certificação é pago pelo próprio produtor.

Ao optar pelo sistema orgânico, o produtor deve procurar orientação junto à assistência técnica especializada ou à própria entidade certificadora. Produto certificado é garantia de qualidade para o consumidor e garantia de remuneração diferenciada para o produtor.

Certificadoras

Associação de Agricultura Orgânica

Com sede em São Paulo, foi fundada em maio de 1989 por um grupo de engenheiros agrônomos, produtores, jornalistas e pesquisadores que já praticavam a agricultura orgânica. Organiza feira do produtor e está começando a trabalhar com certificação.

Instituto Biodinâmico

Principal certificador brasileiro e o único credenciado internacionalmente pela Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica (Internacional Federation of Organic Agriculture Movements – IFPOAM) e pelo DAP na Alemanha (entidade que credencia as entidades certificadoras que operam com o sistema ISO 65).

Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR)

Rua Prof Algacyr Munhoz Mader, 3775
CEP 81350-010
Curitiba (PR)
(41) 3316 3000

Assistências técnicas e comercialização no Paraná

Agrorgânica Ltda – certificado pelo IBD
Rodovia PR 510 – Estrada para Balsa Nova nº 2550 – Jardim Itaqui
Campo Largo (PR)
CEP: 83604-140
(41) 3292 6934
(41) 3399 1146

Gebana Brasil
Avenida Rio Grande do Sul, 1520 – CEP: 85760-000
Capanema (PR)
(46) 3552 1614
(46) 8802 7954
E-mail: [email protected]

Naturalle Agromercantil Ltda – Site
Certificada pelo IBD
Praça Mal. Floriano Peixoto, 42 – sala 41 – Ed. Cathedral Center – Centro – Ponta Grossa / Paraná – CEP 84010-680

Emater Paraná – Site
Agricultores paranaenses que se interessarem pela agricultura orgânica podem obter algumas informações sobre o sistema de cultivo com seus técnicos

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