2º Fórum Soja Brasil mostra preocupação do setor com a rentabilidade

Evento que aconteceu em Esteio (RS), durante a Expointer, destacou as dificuldades que os agricultores terão nesta temporada para fechar as contas no azul rentabilidade

Daniel Popov, de São Paulo
O ano será complicado para a agricultura do país e a gestão adequada para conseguir uma rentabilidade maior será o tom desta safra. Este foi o resumo que fizeram todos os palestrantes do 2º Fórum Soja Brasil – safra 2017/2018, em Esteio (RS). Puxado pelo clima de inovação da Expointer, o evento que aconteceu dentro da Arena Canal Rural recebeu mais de 140 pessoas, que não só ouviram atentamente como participaram do debate através de perguntas.

Antes mesmo de começarem as palestras, alguns dos mais importantes representantes do setor fizeram importantes considerações sobre as condições atuais do país. Uma presença ilustre no evento era secretário executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, que fez questão de ressaltar que o setor agrícola é uma prioridade do governo e por isso a preocupação em desburocratizar alguns processos para facilitar o avanço de questões pendentes.

Eumar Novacki, secretário executivo do Ministério da Agricultura

“Em cinco anos, queremos passar de 7% para 10% a participação brasileira no comércio internacional. Por isso lançamos o plano AgroMais, onde ouvimos os problemas vindos do campo, e tentamos desburocratizar processos. Até agora já desenrolamos pelo menos 750 problemas no setor”, garante Novacki.

Na sequencia, Marcelo Gravina, do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), subiu ao palco para apresentar a palestra “Desafios da cultura da soja nesta safra”. Nela o professor titular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) falou que o uso de tecnologias transgênicas chegou a 96,5% da área de soja no Brasil e não deve crescer muito mais do que isso, ou diminuir. “Depois de 25 anos, o uso de transgênicos se estabilizou no país. O que veremos daqui para frente é a diversificação dos eventos. Atualmente temos dois muito usados, um resistente a herbicidas e outro a insetos e agroquímicos”, diz Gravina.

Marcelo Gravina, do CIB

O conselheiro do CIB comentou que novas tecnologias resistentes a herbicidas e outras que servirão para a rotação dos produtos devem chegar ao mercado no prazo máximo de três anos. Mas, que o futuro reserva uma mudança drástica para a soja. “Em longo prazo serão lançadas novas tecnologias que mudarão completamente a soja como conhecemos. Teremos grãos que geneticamente produzirão pouco óleo, imagina isso”, finalizou.

Ainda dentro do assunto de biotecnologias, o pesquisador da Embrapa, Carlos Arrabal Arias, falou sobre as novas tecnologias criadas pela entidade para melhorar os resultados agronômicos. “Desde a criação da Embrapa em 1975, a cultura da soja evoluiu bastante. Para se ter uma ideia, nos últimos 25 anos a produtividade média cresceu pelo menos meia saca por ano. E isso não tem se revertido em forma de lucratividade. Fato que nos preocupa, pois para que investir se não há retorno”, afirma Arias.

Carlos Arrabal Arias, pesquisador da Embrapa

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil), Marcos da Rosa, salientou, durante o evento, que os produtores de soja do país estão vivendo um momento complicado em relação a custos e o que o melhor seria produzir menos para forçar o mercado a remunerar melhor.

“A vida inteira aprendemos a ter altas produtividades, mas será que este ano não era melhor esquecer isso e produzir apenas 30 sacas por hectare, com uso menor de tecnologias e ganhar 10 sacas de lucro? O que adianta produzir mais de 60 sacas e não conseguir vender. Eu mesmo fui burro na comercialização, tenho soja para vender ainda e não ganhei nem o custo de produção. Então é melhor produzir menos e deixar o mundo sem soja, assim quem sabe o preço sobe”, finalizou Da Rosa.

Marcos da Rosa, presidente da Aprosoja Brasil

Além de a produtividade não render lucros, também não está rendendo qualidade no grão, fator cada vez mais importante para o mercado, garante o doutor em agronomia e pesquisador no instituto de Ciências Agronômicas (Incia), Elmar Luiz Floss, que apresentou a terceira palestra do dia. Após a colheita da soja na safra anterior, foi verificado que a quantidade de proteína existente no grão era de apenas 33%, contra os 37% a 40% exigidos pelo mercado.

“Os chineses já estão reclamando, pois o grão está chegando com mais óleo, que não vale nada, do que proteína. E isso é ruim, pois se eles tiverem que escolher de onde comprar, com este excesso de oferta, optarão por uma soja com maior índice de proteína”, diz Floss ao explicar que isso é resultado de falta de nutrientes importantes no solo, como o nitrogênio. Por isso, a dica do especialista é para que em um ano de corte de gastos, em busca de rentabilidade, o produtor faça a analise do solo para repor somente o necessário, garantindo também a qualidade do grão.

Elmar Luiz Floss, doutor em agronomia

E esta perspectiva de rentabilidade ruim, devido ao preço em baixa e produção em alta, pode ser só o começo das dificuldades que a crise política e econômica instalada no Brasil trará ao setor. Na última palestra do dia, o jornalista político e comentarista do Canal Rural, Mauro Zanatta, analisou como a situação do país deve ficar até as eleições de 2018. “Teremos um longo caminho pela frente para arrumar a economia. Nos corredores de Brasília a previsão é que devemos levar até 2020, para arrumar a casa”, diz Zanatta.

No setor agropecuário o impacto deve ser negativo nos próximos meses. As decisões macroeconômicas têm influencia direta no dia-a-dia do mercado, seja nos juros, no câmbio ou inflação. Além disso, está previsto uma mudança na política de juros do país. “O governo aprovou mudanças na política de juros em longo prazo, retirando os subsídios que dava via BNDES. E isso afeta o agronegócio, pois boa parte dos financiamentos agrícolas é feita pelo banco. Alterando a taxa de juros, muda-se também a planilha de custos do produtor” conta.

Mauro Zanatta, jornalista político

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