Artigo: Gastos com defensivos

Algumas tecnologias podem reduzir o custo com inseticidas sem comprometer o rendimento da soja

*Áureo Lantmann

Em entrevista recente ao Soja Brasil, o coordenador de Defesa Vegetal do Ministério da Agricultura em Mato Grosso, Wanderlei Guerra, declarou que os produtores de soja estão gastando mais do que deveria com defensivos.

Analisando o que representa percentualmente o item inseticida, nos custo de produção de soja, nos últimos cinco anos, este subiu de 6,04 % em 2010 para até 13,8% na safra 2014/2015. É sem dúvida um custo muito significativo.

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Porém, algumas tecnologias podem reduzir o custo com inseticidas sem comprometer o rendimento da soja. Tecnologias que exigem um comprometimento dos agricultores e técnicos com o uso racional de inseticidas.

O uso racional de inseticidas se tornou uma necessidade e uma exigência crescente para a produção brasileira de soja, posto o desafio de produção sustentável, buscando a redução dos impactos ambientais e evitando a imposição de barreiras comerciais à exportação brasileira de soja e derivados. (BAUR et al., 2010; CORRÊA-FERREIRA et al., 2010).

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Os percevejos sugadores de vagens e grãos assumem importância cada vez maior nesta cultura. A ocorrência de elevadas densidades populacionais de percevejos; a resistência comprovada de populações das pragas a alguns inseticidas em diferentes locais; o reduzido número de inseticidas disponíveis no mercado; as falhas de controle e o desequilíbrio ambiental são fatores que potencializam o ataque desses insetos, causando preocupações e sérios danos aos grãos e sementes de soja. (BUENO et al., 2011; CORRÊA-FERREIRA et al., 2009).

O Manejo Integrado de Pragas da Soja (MIP-Soja) é a principal ferramenta para a racionalização do uso de inseticidas, com redução de custos de produção, sem riscos à produtividade. O MIP-Soja vem sendo desenvolvido e aperfeiçoado desde a década de 1970 e obteve grande sucesso na redução do uso abusivo de defensivos durante vários anos. No início da década de 1980, foi possível reduzir o número médio de aplicações por safra, para o controle de pragas, de mais de cinco para menos de duas no Estado do Paraná (FINARDI; SOUZA, 1980).

A Coamo Agroindustrial Cooperativa e a Embrapa Soja, com objetivos de validar o MIP no controle de percevejos, conduziram recentemente em 189 unidades em lavouras de produtores, utilizando parcelas de 50m x 36m. Cada unidade era composta pelos seguintes tratamentos: 1) MIP: manejo dos percevejos conforme o nível de ação e uso de produtos constantes das recomendações oficiais; 2) sistema do produtor (SP): controle segundo os critérios adotados pelo produtor; e 3) testemunha: área sem controle de percevejos. Foram realizadas avaliações semanais da densidade populacional de percevejos, através do monitoramento com o pano-de-batida, em cinco amostragens casualizadas por tratamento, no centro de cada parcela.

Os resultados obtidos nas unidades conduzidas nas safras 2010/2011 e 2011/2012 indicam que os critérios recomendados pelo MIP-Soja são viáveis no atual sistema produtivo da soja. Sendo relevantes a seguintes observações.

1) O monitoramento dos percevejos é fundamental na tomada de decisão de controle e, deve continuar até a fase de maturação da soja, sendo intensificado nos períodos de ocorrência de maiores densidades populacionais desses insetos na cultura;

2) A utilização de critérios próprios do agricultor para a tomada de decisão sobre a necessidade de pulverização resultou em aumento de 106% no número de aplicações para o controle de percevejos na safra2010/2011 e de aproximadamente 50% na safra 2011/2012;

Isto resulta claro num maior custo de produção.

3) As aplicações para o controle dos percevejos antes do início do desenvolvimento de vagens (R3) não resultaram em melhoria da produtividade ou da qualidade dos grãos, e também não reduziram a densidade populacional de percevejos na fase crítica da soja ao dano da praga;

Esta observação é muito importante, pois tem sido comum a aplicação de inseticidas para o controle de percevejos antes do surgimento de vagens.

4) A redução da eficiência de controle ocorreu quando as aplicações foram realizadas com densidades populacionais de percevejos muito acima do nível de controle;

5)- Em seis das nove regiões estudadas na safra 2010/2011, a intensidade de ataque dos percevejos foi maior nas semeaduras precoces realizadas antes de 16/10.

O uso do MIP para o controle de percevejos na cultura da soja pode reduzir significativamente o numero de aplicações de inseticidas e com isso evidentemente diminuir o custo de produção.

Mais detalhes sobre o MIP para o controle de percevejos podem ser encontrados no documento 341, MIP-Soja: resultados de uma tecnologia eficiente e sustentável no manejo de percevejos no atual sistema produtivo da soja. EMBRAPA – Soja.

*Áureo Lantmann é engenheiro agrônomo, foi pesquisador da Embrapa Soja e é consultor técnico do Soja Brasil desde a primeira edição, safra 2012/2013