Baixa qualidade favorece o uso de sementes salvas

Prática ainda divide opiniões entre os produtores. Mas, em dez anos, a área reservada para sementes salvas saltou de 3 mil hectares para 170 mil hectares

A baixa qualidade das sementes será mais uma vez um problema para os sojicultores do país. Na temporada anterior, as reclamações foram grandes a respeito da condição do insumo, que levaram diversas localidades a replantar a soja, aumentando o custo de produção. Esta previsão tem levado muito agricultores a salvar a própria semente de soja. A prática divide opiniões e exige cuidados para que o produtor não caia na ilegalidade.

Em Mato Grosso, 20% da área estimada para a safra 2016/2017 deverá ser semeada com este tipo de semente, segundo estimativa do Ministério da Agricultura em parceria com o Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea).

Muitas vezes a decisão de cultivar a própria semente surge da dificuldade em conseguir uma determinada cultivar de boa qualidade para a safra. Além, é claro, da falta de pontualidade na entrega. Este foi o caso do produtor Lucas Beber, que semeou 80% da sua área com sementes salvas. “A empresa que me vendeu as sementes, já informou na entrega que elas estavam com a germinação abaixo do padrão desejável e me bonificou com 30% a mais de sementes. Porém, mesmo aumentando a população, verifiquei que a germinação não vai atingir o vigor ideal”, conta Beber.

Mas, o agricultor não está salvando as sementes por “achar que a qualidade é melhor”, para comprovar isto ele abriu um pequeno canteiro para realizar testes de germinação e vigor das sementes compradas e o resultado foi assustador. “Em um mesmo campo, uma planta está com 80 de vigor, outra, ao lado, com 20. O pior é uma parte que nem ao menos emergiu”, frisa ele. “O ideal era o desenvolvimento com certo padrão, mas não é isso que está acontecendo, está tudo falhado.”

Veja os problemas com sementes nesta safra:
A chuva chegou, mas as sementes de soja, não
Soja: 30% das sementes plantadas no país são ilegais
Qualidade das sementes de soja está pior na safra 2016/2017

O produtor só não plantou a área inteira porque uma parte das sementes colhidas não estava adequada, por conta de nematoides de solo que afetaram a produção.

Não são poucos os produtores nesta situação. Segundo o consultor técnico, Naildo Lopes, que atende muitos produtores da região, o número de reclamações é grande e a falta de garantia das sementeiras tem estimulado os produtores a cultivar a própria semente. “Há uma tendência de os produtores de Mato Grosso aumentarem a produção de sementes salvas e pagarem os royalties por isso”, diz Lopes. “Nas propriedades maiores isso já é uma realidade. Eles buscam produzir sementes com maior qualidade, principalmente frente aquilo que receberam nesses últimos.”

Números do Instituto de Defesa Animal e Vegetal de Mato Grosso mostram que essa prática só aumenta no estado. Em 2005, a área com sementes salvas era de três mil hectares. Dez anos depois, na safra 2015/2016, este montante saltou para 170 mil hectares, ou seja, quantidade suficiente para produzir cerca de 20% das 29 milhões de toneladas de soja, previstas para este ano.

Mas, nem todos os produtores são favoráveis a esta prática. Para o agricultor Altemar Kroling, o problema de muitos sojicultores investirem na própria semente é o desestímulo ao negócio para as sementeiras. “As sementeiras irão diminuir a quantia de sementes, conforme a queda na demanda. Quando acordarmos vai haver duas ou três revendedoras no estado apenas”, garante ele. “Sem contar que não é fácil como parece, precisa ter lugar para tratar e armazenar adequadamente este material. Sem falar nos royaties”

O produtor precisa ficar atento a respeito destas sementes salvas. A partir desta safra, todos os registros de áreas de sementes de soja salvas e das fiscalizações são responsabilidades do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea).

Veja mais notícias sobre soja