A chuva não virá a tempo? Braquiária salva plantio de soja mesmo na estiagem

Produtores do Maranhão estão conseguindo resultados muito bons no consórcio com o milho, elevando a produtividade e minimizando problemas com o clima

Daniel Popov, de São Paulo
Como estaria uma plantação de soja, no Maranhão, recém-semeada e com 20 dias de estiagem? A resposta pode ser vista na imagem que ilustra esta notícia. O segredo para um resultado como este não é nenhuma novidade, rotação de culturas e palhada de alta qualidade, mas ainda assim muitos preferem não seguir as orientações técnicas e acabam com uma janela de plantio curta e produtividades abaixo do esperado.

Foi iniciada a safra de soja no Maranhão, um dos estados que mais apostam na expansão da oleaginosa no país. Para se ter uma ideia, segundo o levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção da região deve crescer até 80% nesta temporada, passando de 1,2 milhão de toneladas, em 2015/2016, para 2,2 milhões este ano. Isto tudo graças a recuperação da produtividade, já que a área será 4% maior apenas.

Mais uma vez a temporada iniciou com falta de chuvas no inicio de outubro, quando o estado começa a semear a soja. No ano passado, boa parte dos produtores tiveram que adiar o plantio por esta razão, fato que se repetiu em 2016/2017.

Na contramão da maioria, o produtor gaúcho Arlindo Celestino Braum Fucina, que já vive no Maranhão desde meados de 1980, não se preocupou com esta estiagem que afetou a região e colocou suas máquinas em campo para semear mais uma safra de soja. Tamanha segurança só foi possível porque seu solo estava coberto com uma boa palhada, deixada após o cultivo de braquiária em consórcio com o milho. “Temos um regime de chuvas muito apertado e precisamos de muita palha no solo para aumentar a resistência à seca, manter a temperatura adequada e manter os nutrientes para a planta”, conta Fucina.

Foto: Carlos Santos
Foto: Carlos Santos

Nos 9,6 mil hectares que o produtor cultiva, a expectativa é colher 31 mil toneladas de soja na safra 2016/2017, que representa uma produtividade média de 54 sacas por hectare. Para comparação, o estado tem uma produtividade média de 46 sacas por hectare. “Queremos chegar a uma produtividade de 65 sacas em média, que é o mesmo que já conseguimos em alguns talhões”, afirma Fucina. “Com esta rotação de culturas consegui expandir de 5 a 10 sacas por hectare e podemos mais.”

Fucina descobriu o valor desta técnica observando agricultores paranaenses, que possuíam culturas de inverno e faziam a cobertura do solo, com elas, para garantir a integridade do mesmo. “Fomos atrás de uma alternativa que se adequasse a realidade do nosso estado. Testamos diversas opções e a que mais adequou a nossa realidade foi a braquiária, por conta da massa que ela deixa no solo e as raízes que melhoram a biologia do solo”, garante Fucina.

Foto: Carlos Santos
Foto: Carlos Santos

Além das vantagens citadas acima, Fucina ressaltou outro benefício do sistema, a ampliação da janela de plantio. Com o uso da braquiária consorciada com o milho ele ganho de 30 a 40 dias a mais em uma janela já bastante apertada por conta do regime de chuvas que agraciam a região durante seis meses no ano. “Conseguimos melhorar nossa janela de plantio, já que a cobertura de solo melhorou a reserva de água. Com isso, conseguimos começar a plantar em outubro e ainda teremos uma boa reserva de umidade no final do período das águas”, diz ele.

Quando o assunto é cobertura de solo:
Cobertura de solo eleva produtividade da soja em 20%
Tudo sobre o sistema de rotação de culturas com plantio direto

O responsável por auxiliar Fucina na empreitada de avançar com a rotação de culturas, e cobertura com braquiária foi o engenheiro Agrônomo, Carlos Santos, da Reativa Consultoria, que também atende proprietários de outros 64 mil hectares no estado. Segundo ele, a principal dificuldade é conscientizar o produtor dos benefícios desta prática e desmistificar inverdades a respeito de algumas braquiárias. “Há cinco anos iniciou uma campanha na região contra a Braquiária ruziziensis, alegando que ela era multiplicadora de nematoides do solo. Fomos a única consultoria que persistiu no manejo, por não concordar com aquela informação”, diz Santos. “Hoje, está provado que estávamos certos e agora queremos mostrar que ela é boa para controlar os mesmos nematoides.”

Foto: Carlos Santos
Foto: Carlos Santos

Veja mais notícias sobre soja