Mato Grosso segue com chuvas intensas, alagamentos e prejuízos milionários

A cada dia mais casos de desastres em lavouras de soja do estado surgem. Até um rio de 1,5 km de extensão se formou em uma fazenda. Veja as fotos e vídeos

As chuvas que estão castigando o estado de Mato Grosso nos últimos dias trarão, sem dúvidas, prejuízos milionários aos sojicultores. O caso mais grave, até o momento, aconteceu em Campo Novo do Parecis, região médio-norte do estado. Por lá, três mil hectares ficaram embaixo d’água nos últimos dias. Mas, também houve relatos parecidos de problemas em Sapezal. Em um vídeo amador gravado por um agricultor, um rio de 1,5 quilômetros de extensão se abriu sob as lavouras de soja, causando muitos estragos. Após ver as imagens, a Embrapa destacou alguns pontos para serem levados em consideração para recuperar a área.

Já são 14 dias de chuvas intermitentes na propriedade de Valdecir Chiamulera, em Campo Novo do Parecis. O volume registrado em seu pluviômetro ultrapassa a casa dos 700 milímetros acumulados e segue aumentando a cada dia. “Hoje, pela manhã, já marcava outros 100 milímetros, em um dia, é muita coisa. Não para nunca”, comenta ele.

O resultado destas chuvas intensas e intermitentes pode ser visto no vídeo abaixo, gravado pelo próprio agricultor:

Achou impressionante? Pois é, a extensão deste rio chega a 1,5 quilômetros e a largura . . . ele mesmo explica. “Se vier aqui hoje, está de um tamanho, amanhã a coisa já ficou bem maior. Estas imagens foram gravadas no final de semana e a largura estava muito menor do que agora”, garante Chiamulera ao relatar que boa parte de sua área estava coberta por pelo menos 40 centímetros de água.

Os prejuízos ainda não foram contabilizados, afinal as chuvas não passaram, o acesso às lavouras só pode ser realizado com moto e a colheita ainda não foi realizada. Mas, ela será milionária, prevê o produtor, que repartirá os gastos com seu vizinho já que a vala aberta contempla as duas fazendas. E a conta não é fácil mesmo, pois não se trata apenas de perda de produtividade e produção, mas de reestruturação da planície, correção das curvas de nível, manejo da fertilidade do solo entre outros. “Estamos vivendo um fato histórico, nada que tentássemos fazer evitaria o que aconteceu. Acho que levarei pelo menos 4 anos para acertar tudo”, comenta ele.

personagem soja

Inicialmente, o plano de recuperação imaginado pelo produtor consiste em consertar as curvas de nível, para evitar que o problema volte a ocorrer em outros anos, trazer terra para nivelar o terreno e recuperar a fertilidade perdida. “Primeiro terei de refazer as curvas de nível, que ocupam mais de mil hectares. Depois, trarei solo de outro lugar, para aterrar a área e farei a correção do solo”, diz. “Isso leva tempo, sem pressa.”

Segundo a Embrapa, as atitudes pensadas pelo produtor estão corretas e darão muito trabalho mesmo. Claro, que a situação pede uma avaliação mais aprofundada, comenta o pesquisador da Embrapa, Julio Franchini. “Não podemos avaliar a situação completamente só com o vídeo. É preciso entender qual era o manejo, tipo de solo, volume de água entre outras questões”, diz Franchini. “Mas, pelo que vimos os planos do agricultor não são nenhuma loucura.”

Como primeira medida, o pesquisador da Embrapa ressalta que é preciso isolar a área e refazer as curvas de nível para neutralizar o canal criado, desviando a água que cairia para lá. “Trazer terra parece ser uma solução, mas precisa avaliar se será economicamente viável. Depois disso ele terá que fazer a correção de solo e lembrar que terá um período para que esta fertilidade volte, com calagem, adubação específica”, explica. “É um trabalho de longo prazo e de muita calma.”

O secretário de Desenvolvimento Econômico do município, Sebastião Carlos Pim, também está muito preocupado com a chuva. O relatório prévio do Sindicato Rural já aponta grandes prejuízos para toda a região de Campo Novo do Parecis. “Onze fazendas foram afetadas, e 3 mil hectares foram totalmente alagados, causando prejuízo em torno de R$ 2,4 milhões. O número pode aumentar, pois a tendência é de mais chuva para os próximos dias”, afirma Pim.

Ao que parece a situação se estende para outros municípios do Estado. Relatos vindos de Sapezal mostram que uma situação parecida tem acontecido por lá. Um produtor que não quis se identificar mandou as imagens abaixo para mostrar como as coisas estão.

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Por lá são 4 mil hectares, prontos e dessecados aguardando o fim das chuvas para que a colheita comece. Mas, devido as chuvas, nada foi retirado ainda. A perspectiva é que 30% da lavoura será perdida e outra parte terá problema de qualidade com excesso de umidade nos grãos e ardidos. As chuvas intensas que alagaram suas lavouras passou, mas não dá para colocar as máquinas em campo, porque a água não para de cair.

Diariamente, muitos outros produtores tem enviado relatos de problemas com o excesso de precipitações em suas lavouras e a dica é ficar de olho na meteorologia para tentar colher alguma coisa o quanto antes.

Este outro vídeo foi gravado em uma propriedade vizinha ao do agricultor Valdecir Chiamulera, em Campo Novo do Parecis.

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