Maggi afirma que agricultor não deve esperar ações do governo para melhorar produção

Evento que aconteceu na Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS), também contou com debate sobre a preservação de tecnologias e uma análise sobre o impacto das mudanças políticas globais para o agronegócio brasileiro

O 4º Fórum Soja Brasil da temporada 2016/2017, que aconteceu em Não-Me-Toque (RS), nesta quinta-feira, dia 9, durante a Expordireto Cotrijal, trouxe aos produtores duas importantes discussões. A primeira tratou sobre a preservação das tecnologias atuais, evitando que pragas, fungos e plantas daninhas se tornem resistentes aos produtos do mercado. A outra retratou os acontecimentos políticos e econômicos do mundo e como isso afetará o agronegócio brasileiro.

O ministro de Agricultura, Blairo Maggi, esteve presente durante o fórum e discursou por quase 30 minutos. Em sua fala, ele afirmou que os agricultores não devem aguardar ações do governo ou depender de mecanismos públicos para melhorar sua produção. “Quando vim para Mato Grosso, na década de 1980, não tinha nada, faltavam até mecânicos para consertar maquinários. Os produtores se uniram e conseguiram melhorar as condições das estradas, de pesquisa e tudo mais”, disse ele.

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Maggi ainda ressaltou a importância de contribuições como oFundo Estadual de Transporte e Habitação (Fethab) para evolução da infraestrutura mato-grossense e redução nos custos de transporte. Após o discurso do ministro, o presidente da Aprosoja Brasil, Marcos da Rosa, também defendeu o pagamento da contribuição, afirmando que, agora, existe um conselho para vistoriar o uso dos recursos em infraestrutura. “Criamos mecanismos para evitar que esses recursos fossem mal usados como no passado, e criamos um conselho para garantir que o Fethab só será gasto em obras aprovadas pelo conselho. Ou seja, em obras de infraestrutura”, garantiu Da Rosa. “Fizemos também um planejamento estratégico para dizer onde serão aplicados estes recursos. Obras mais urgentes, por exemplo.”

Após os discursos iniciais, o evento seguiu com as palestras programadas. Com a safra de soja chegando ao final, muitos produtores estão voltando suas atenções à comercialização do grão. É claro que a formação de preços das commodities e a variação do câmbio são diretamente afetados pelas mudanças que acontecem na política e economia de muitos países, como Estados Unidos e França, entre outros.

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Apresentando a palestra “Os impactos do cenário político nacional e internacional no agronegócio brasileiro”, o jornalista e sociólogo Lorenzo Carrasco falou um pouco sobre essas mudanças e como elas abrem espaço para a expansão do agronegócio brasileiro. “O mundo estava acostumado à hegemonia na economia global. Mas isso está mudando, algo fácil de notar no discurso do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que pretende retomar a hegemonia de seu país”, afirmou.

Para Carrasco, isso não deve voltar a acontecer, até pela evolução da Ásia, que detém dois terços da população mundial, comanda a compra de produtos no mundo e provavelmente será uma potência nos próximos anos. “A China, por exemplo, já importa muitos alimentos e deve ampliar a sua população e seu consumo. Quem ganhará com isso? O país que conseguir ampliar sua produção e atender esta demanda. Neste caso, o Brasil”, disse.

A exemplo de Carrasco, muitos acreditam que o Brasil é um dos poucos países com potencial para ampliar a produção de alimentos e atender a essas demandas. Entretanto, o sociólogo afirma que o país já deveria estar mais preparado para isso, o que não estaria ocorrrendo. “O problema é que a situação brasileira é caótica e está impedindo a possibilidade de alcançar esta oportunidade. Não só com a logística ineficiente, mas também toda a agenda ambiental e política”, disse Carrasco. “O país precisa se planejar urgentemente, investir no setor para daí sonhar em atender essa demanda por alimentos.”

E não é só no campo político que o país precisa melhorar. Nas lavouras, um perigo ameaça o futuro da rentabilidade e da eficiência das produções. Muitas tecnologias utilizadas atualmente – como herbicidas, inseticidas e variedades de soja resistentes a pragas – estão perdendo sua eficiência, por conta de um manejo inadequado e uso indiscriminado dos produtos.

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A palestra do pesquisador da Embrapa Alvadi Balbinot Junior tratou exatamente sobre os cuidados que os produtores deveriam ter em suas lavouras para preservar tecnologias. “É difícil ver novos eventos como esses serem lançados no mercado. O que existe é um novo inseticida a ser lançado, mas com o mesmo mecanismo de ação de um produto usado desde a década de 1980, ou seja, não muda nada. O que falamos são novos produtos com princípios ativos diferentes e isso é difícil de surgir”, explicou ele.

Para se ter uma ideia de tempo e porque é melhor conservar as tecnologias existentes, depois de pensar em algo novo, uma empresa pode levar até 15 anos para lançá-la no mercado. E olha que a parte mais difícil, não é essa, mas sim criar algo inovador. “Não existe uma tecnologia que vem para resolver todos os problemas. Na realidade temos muitas tecnologias que se usadas corretamente durarão muitos anos“,explica a diretora executiva do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) Adriana Brondani, mediadora do debate que aconteceu após a palestra do pesquisador da Embrapa.

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