Plantas daninhas resistentes aumentam custos em até 222%, diz Embrapa

Preocupada com a perda de eficiência do glifosato, entidade mostra que gastos com combate a invasoras estão muito mais elevados e aponta alternativas para evitá-las

Daniel Popov, de São Paulo
Sabe aquela planta daninha que mesmo com a aplicação herbicidas teima em permanecer viva? Pois bem, um estudo recente da Embrapa garantiu que estas invasoras chegam a aumentar os custos da soja em 222%, nas infestações mistas de buva e capim-amargoso.

O estudo realizado nas principais regiões produtoras do país, avaliou a perda de valores com aplicações de herbicidas e de produtividade nas lavouras de soja com plantas daninhas resistentes ao glifosato. Segundo o pesquisador Fernando Adegas, da Embrapa Soja (PR), os valores sobem, em média, entre 42% e 48% para as infestações isoladas de buva e de azevém, respectivamente, e até 165% se houver capim-amargoso resistente. Em casos de infestações mistas de buva e capim-amargoso, por exemplo, o aumento médio é de 222%.

Segundo Adegas, geralmente são encontradas análises técnicas sobre a questão de resistência, mas o objetivo desse estudo é entender o impacto econômico do problema no dia a dia dos produtores brasileiros. “São números alarmantes e percebemos que os produtores estão ansiosos por informação, discussão e solução para a questão de resistência”, relata Adegas,  um dos responsáveis pelo estudo “Impacto econômico da resistência de plantas daninhas a herbicidas no Brasil”, diz.

Segundo o pesquisador, o custo médio no Brasil para o controle de plantas daninhas é de R$ 120 por hectare. Em um cenário de infestação de azevém resistente ao glifosato, por exemplo, existe a necessidade do uso de um herbicida alternativo associado ao glifosato para controle da infestante. “Nesse caso, o custo por hectare fica entre R$ 118,60 e R$ 236,70, o que representa um aumento médio de gasto com herbicidas de R$ 57,65”, afirma.

Adegas explica que em áreas infestadas com capim-amargoso resistente ao glifosato, a alternativa de controle passa a ser o uso de graminicidas. “De maneira geral, são conduzidas entre duas e quatro aplicações de graminicidas para o controle de plantas daninhas resistentes”. Com isso, o custo médio para o controle sobe de R$ 120 para aproximadamente R$ 318. “Isso causa um impacto de 165% a mais no custo de produção.”

Nas situações de infestações mistas de espécies daninhas resistentes ao glifosato, o aumento nos custos de controle é ainda pior. Em áreas com infestação de buva e de capim-amargoso, o custo de controle pode chegar a R$ 386 por hectare, ou seja, um aumento médio de 222% no custo de produção. Por isso, o pesquisador defende uma ampla discussão sobre a questão da resistência no Brasil. “Além do impacto econômico que já é sentido, o produtor precisa tomar medidas para minimizar ou conviver com essa resistência em sua propriedade.”

Métodos recomendados para prevenção

Entre os métodos preventivos recomendados, Adegas destaca a aquisição de sementes livres de infestantes; a limpeza de máquinas e equipamentos, especialmente as colheitadeiras; e a manutenção de beiras de estrada, carreadores e terraços livres de infestantes.

No que diz respeito ao controle mecânico, a indicação é pelas capinas e roçadas. No caso de controle químico, Adegas lembra que a principal ação é a utilização de herbicidas de diferentes mecanismos de ação, em diferentes sistemas de controle.

Entre os métodos culturais incluem-se a diminuição dos períodos de pousio, o investimento em produção de palhada para cobertura do solo e a utilização de cultivares adaptadas em espaçamento entre linhas, além da rotação de culturas.

O coordenador do projeto Grãos da Emater-PR, Nelson Harger, concorda que o manejo de plantas daninhas, quando apoiada apenas no controle químico, traz problemas à assistência técnica e aos produtores. “Percebemos que o manejo de plantas daninhas no Paraná, muitas vezes, não é eficiente e favorece o processo de resistência”, pondera. Harger considera os escapes de plantas daninhas por rebrotas e a infestação pela produção de sementes nas áreas próprias e nos vizinhos como as maiores dificuldades relatadas pelos agricultores.

Para o extensionista, algumas falhas de controle cometidas pelos produtores são agravadas pela dificuldade de manejo das plantas daninhas resistentes. “Por isso, estamos sempre defendendo a utilização conjunta de métodos diferenciados de manejo. As culturas de cobertura, por exemplo, comprovadamente promovem a supressão das plantas daninhas”, diz.

Apoiadas na utilização de métodos culturais, Harger conta que no Paraná unidades de referência instaladas em propriedades agrícolas e acompanhadas pela Emater têm conseguido minimizar o problema. “Temos relatos de produtores que usaram a braquiária em sucessão ao milho e que conseguiram economizar, na safra de soja, por exemplo, R$ 138 por hectare ao reduzir o uso de herbicidas. “Por isso, defendemos a utilização de métodos integrados de manejo de plantas daninhas para enfrentarmos o problema atual de resistência.”

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