Sojicultor de SP estará entre a cruz e a espada nesta safra

Dificuldades começam com clima, passam por atraso do plantio e chegam a cotações e câmbio ruins. O resultado é uma safra cheia de desafios

A safra de soja 2016/2017 deve ser menos rentável para o produtor paulista em relação ao ciclo anterior. Custos maiores, câmbio e cotações em baixa compõem este cenário complicado. Com isso, a perspectiva da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) é que o estado terá uma safra até 7% menor.

Segundo a perspectiva da Conab, o plantio da soja em São Paulo pode ocupar uma área de até 900 mil hectares, montante 5% maior que a anterior. Mas, esta ampliação de área não deve refletir em elevação de produtividade, que deve somar 49 sacas por hectare, contra as 55 sacas da temporada anterior. Com isso a produção de soja do estado pode variar entre 2,5 milhões de toneladas e 2,6 milhões, volumes mais baixos que os 2,8 milhões de toneladas de 2015/2016.

A explicação para esta queda em produtividade é, em parte, do clima. As chuvas que deveriam ter chegado em setembro, logo após o fim do vazio sanitário, não vieram com a intensidade e regularidade necessárias e isso atrasou o andamento da safra no estado. Em setembro do ano passado choveu quase 200 milímetros, contra os 15 milímetros deste ano. O resultado um solo com baixa umidade e o plantio atrasado. “Acredito que só em meados de novembro tudo estará plantado”, conta o produtor de Rio das Pedras, Ronaldo Borsato.

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Além desta indefinição sobre o clima, que também atrapalha a previsão sobre a produtividade, as baixas cotações da oleaginosa, aliado ao cambio desfavorável, tem limitado as negociações da safra. Borsato conta que este ano os baixos preços da soja fizeram com que suas negociações antecipadas ficassem abaixo dos 20%. No ano passado as vendas superavam os 30%, nesta época. “No ano passado, tínhamos mais de soja travada porque o mercado estava um pouco mais estável, sem ter picos de altos e baixos. Este ano tivemos um pico nos preços de até R$86 a saca e depois baixou muito”, afirma o irmão do Ronaldo, Gustavo Borsato. “Então resolvemos segurar um pouco para ver como o mercado vai se comportar daqui pra frente e ver como vai ser o fechamento nosso futuro.”

Para piorar a situação, alguns fatores indicam estabilidade ou queda nos preços. No mercado à vista, a saca com base Paranaguá caiu 10% em setembro, já descontada a inflação, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). Um fator que contribui para isto é a expectativa safra recorde de 116 milhões de toneladas nos Estados Unidos. “Os preços atuais em dólares são maiores do que os observados em 2015. Porém, atualmente, nós temos uma taxa de câmbio menor, o que gera uma receita em reais ao produtor menor do que a registrada em 2015”, afirma o analista do Cepea Lucílio Rogério Aparecido Alves. “Não há perspectiva de que isso mude para o segundo semestre de 2017.”

E as perspectivas ficam ainda piores, uma vez que a expectativa é de uma receita menor e custos mais altos, já que o gasto com insumos está quase 10% maior em relação à safra anterior. “O mercado de soja está com margens em queda há cinco ou seis anos. No geral ela continua positiva, porém mais apertada”, finaliza Alves.

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