Veja os efeitos do El Niño no plantio desta safra

Safra passada também contou com o fenômeno climático, mas este é considerado o mais forte dos últimos anos e deixou boa parte do cerrado com poucas chuvas

Pryscilla Paiva | São Paulo (SP)

A janela ideal do plantio da soja já terminou no dia 30 de novembro no Centro-Oeste. A partir de agora, os custos da produção da soja para alguns produtores passam a ser mais elevados do que a rentabilidade que podem conseguir. Por isso, muitos já pensam até mesmo em pular a safra de soja e ir direto para o milho safrinha.

A irregularidade das chuvas entre o norte de Mato Grosso, Goiás, Matopiba e parte de Minas Gerais é a grande responsável pelos atrasos registrados no plantio em 2015. Em contrapartida, temos o Paraná com excesso de umidade. No oeste do estado já se estima uma quebra de safra de 20% por conta dos volumes elevados de chuva nos últimos meses aliados à falta de luminosidade.

No noroeste do Rio Grande do Sul e oeste de Santa Catarina os problemas são os mesmos. Esta condição climática favorece a proliferação de doenças fúngicas, como a ferrugem asiática que já deu sinais em parte das lavouras do Paraná.

Para o agricultor que nos lê entender melhor este cenário, preparamos mapas especiais para analisar o que aconteceu de diferente no regime de chuvas em relação ao ano passado. Juntamos ao mapa dados do plantio em todo o país até o dia 4 de dezembro.

Em 2014, nós também estávamos sob a influência do fenômeno climático El Niño, a exemplo do que aconteceu neste ano. Só que o episódio de 2015 já é considerado o mais forte dos últimos 15 anos e deixou boa parte do cerrado com chuva mal distribuída e de baixo volume acumulado.

Algumas áreas do Brasil possuem certa semelhança no comportamento climático. É o caso do Sul do Brasil e do Mato Grosso do Sul, que são influenciados pelas frentes frias. Já Mato Grosso e Goiás fazem parte de outra região, onde o comportamento climático é bem diferente do centro-sul. O mesmo vale para o Sudeste e para o Matopiba [Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia]. Levando informações em consideração dividimos esta análise em quatro partes

Sul e Mato Grosso do Sul

Por estarmos também sob a influência de outro El Niño em 2014, o que potencializa os temporais no sul do Brasil, dá pra perceber que o volume acumulado de chuva foi bem intenso nos três estados do Sul a exemplo do que ocorreu em 2015. Os percentuais indicam as áreas plantadas até o momento e o que a gente percebe é que são bem similares.

Somar Meteorologia, com dados de Safras & Mercado
Somar Meteorologia, com dados de Safras & Mercado

De acordo com o climatologista Paulo Etchichury, a chuva foi intensa nos últimos dois anos, com uma pequena diferença de localização apenas. Em alguns meses mais concentrada no Paraná e em outros no Rio Grande do Sul.

Sudeste

No Sudeste do Brasil, a diferença está mais evidente em São Paulo que teve, inclusive, um dos meses de novembro mais chuvosos da história e, portanto, apresenta acumulados maiores em relação aos outros estados da região. As áreas plantadas apresentam percentuais de plantio parecidos.

Somar Meteorologia, com dados de Safras & Mercado
Somar Meteorologia, com dados de Safras & Mercado

Centro-Oeste

No Centro-Oeste, a diferença de acumulado de chuva em relação ao ano passado fica muito evidente, principalmente em Mato Grosso. Este é o estado que enfrentou mais atrasos no plantio este ano por conta da irregularidade das chuvas.

Somar Meteorologia, com dados de Safras & Mercado
Somar Meteorologia, com dados de Safras & Mercado

Neste ano, as pancadas de chuva só tiveram maiores volumes no oeste e parte do centro de Mato Grosso e no sul de Goiás. No ano passado, grande parte de Mato Grosso recebeu volumes que variaram dos 2000 a 2500 milímetros anuais.

Matopiba

Na região que engloba o Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, o atraso dos percentuais de áreas plantadas fica evidente e a falta de chuva é a grande responsável. O Tocantins apresentou volumes acumulados muito mais satisfatórios no ano passado.

Neste ano, algumas áreas não registraram nem 200 milímetros acumulados de janeiro de 2015 até agora. E os prognósticos climáticos não são nada favoráveis para o primeiro trimestre de 2015.

Somar Meteorologia, com dados de Safras & Mercado
Somar Meteorologia, com dados de Safras & Mercado

O El Niño vai inibir o regime de chuva de boa parte do Matopiba. Para este fim de semana até há previsão de algumas pancadas que devem animar os produtores. O grande problema é que não será uma chuva duradoura e grande parte das lavouras não vão receber volumes significativos. Como o solo está muito seco, a chuva precisaria ser bem mais persistente.

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