Produtor faz sua parte, mas sem controle ervas daninhas sobrevivem nas cidades

Plantas invasoras aparecem em calçadas de centros urbanos, florescem e pólen é carregado por insetos e vento para lavouras próximas

Daniel Popov, de São Paulo
As plantas daninhas são hoje um dos principais problemas para quem cultiva soja e milho no país. Segundo um estudo da Embrapa, estas infestações elevam os custos para erradicação em mais de 222%. O produtor sabe que não pode dar trégua para estas plantas no campo, mas nas cidades elas ganham espaço sem serem percebidas,como as fotos que ilustram esta reportagem.

Vegetação alta nas cidades não é uma novidade, ainda mais em tempos chuvosos. Crescendo em calçadas, além do inconveniente de dificultar o caminho e má aparência, estas invasoras em ambientes urbanos escondem um problema ainda maior: a sobrevivência e disseminação de suas sementes para as lavouras da região.

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Segundo o pesquisador da Embrapa e consultor do projeto Soja Brasil, Áureo Lantmann, que foi o responsável pela detecção do capim amargoso próximo a sua residência, no município de Londrina, no Paraná, muitas vezes ninguém sabe o prejuízo que aquela planta estranha pode causar e não se atentam a sua erradicação.

“Mesmo que o agricultor faça o seu controle correto na propriedade e faz, o fato de a planta estar presente nos centros urbanos trará sérios problemas para as lavouras da região. O pólen destas plantas chegarão com facilidade aos campos e darão origem a outras plantas”, diz Lantmann.

Ao que tudo indica a preocupação do consultor do projeto Soja Brasil tem razão. Ao entrar em contato com a Companhia Municipal de Trânsito e Urbanização (CMTU), responsável pelos serviços de limpeza urbana em Londrina, as pessoas que atenderam a reportagem não sabiam, de fato, o mal que aquele “mato” era capaz de causar.

Em nota, a CMTU informou que “A calçada mostrada nas imagens é uma área particular. E, de acordo com o artigo 169 do Código de Posturas do Município (Lei 11.468/2011), a limpeza e conservação destes espaços é de responsabilidade do proprietário do imóvel”, diz. Em resumo, as calçadas apesar de serem abertas a uso público, a manutenção e limpeza são de responsabilidade do dono da propriedade à sua frente.

Segundo a CMTU a cada ano, no mês de janeiro, a CMTU notifica todos os donos de terrenos particulares a realizarem a capina e roçagem do mato, bem como a manterem os locais limpos ao longo dos meses. Quem desrespeita a determinação fica sujeito ao pagamento da autuação e da conta do serviço de corte da vegetação, quando este é realizado pela companhia. Em casos assim, é cobrada multa de R$ 2 pelo metro quadrado capinado, cerca de R$ 0,46 pelo trabalho realizado em cada metro e mais 10% de taxa administrativa.

Lantmann comentou que este não é um caso isolado e muitos municípios que são rodeados por lavouras enfrentam as mesmas dificuldades. “Isso vem acontecendo no meio urbano, relativamente próximas a lavouras de soja, milho e trigo e merecia uma atenção maior das autoridades. As plantas deveriam ser eliminadas o quanto antes, pois a planta tem alta capacidade de polinização”, comenta.

Além disso, o problema com as invasoras é agravado devido ao aumento da resistência destas plantas aos produtos que as combatem. O estudo da Embrapa mostrou que em áreas infestadas com capim-amargoso resistente ao glifosato, a alternativa de controle que custava R$ 120 por hectare subiu para aproximadamente R$ 318.

A CMTU informou que diante da denúncia do Canal Rural: “o caso já foi encaminhado ao setor de fiscalização, que buscará identificar o responsável pelo imóvel para, dessa forma, notificá-lo novamente a executar a erradicação da invasora”, finaliza a nota.

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