Apesar da burocracia, agricultores de Goiás acessam crédito para armazenagem

Déficit no Estado é de 5 milhões de toneladas de grãos. Mesmo com a dificuldade na liberação do crédito, produtores estão conseguindo investir na estocagem

Fernanda Farias | Rio Verde (GO)

Em cinco anos, a produção de soja em Goiás passou de 7 milhões para quase 9 milhões de toneladas. A capacidade de armazenagem não acompanhou esse crescimento. O déficit de espaço para estocar os grãos no Estado é de 30% atualmente.

• Produtores de Nova Mutum (MT) reclamam da burocracia no crédito para armazenagem

O sul de Goiás é uma das regiões mais bem atendidas quando se fala em armazenagem. A capacidade estática é de 1,5 milhão de toneladas. Sendo 1,4 só nas 17 unidades da Cooperativa Agroindustrial dos Produtores Rurais do Sudoeste Goiano (Comigo). Mas ainda não é suficiente para toda a demanda.

– Nós temos uma condição razoável de armazenagem, mas as áreas vão expandindo, a produtividade vai melhorando e o produtor quer um armazém mais próximo da sua propriedade. Precisa construir mais armazéns em Caiaponia, Piranhas, que são áreas de expansão. Iporá, ampliar em Montes Claros. Isso seria fazer cinco armazéns, seria em torno de quase R$ 200 milhões de investimentos que teria necessidade de fazer nos próximos quatro, cinco anos – explica o presidente da Comigo, Antônio Chavaglia.

• Produtores de São Gabriel do Oeste (MS) querem desocupação de armazéns com milho já comprado

Nos últimos cinco anos, a cooperativa investiu mais de R$ 100 milhões em sete armazéns, para receber mais de 400 mil toneladas. Agora, o dirigente diz que a estratégia é aguardar para ver como será o cenário econômico no novo governo.

– Se não houver investimento, a tendência é diminuir a expansão da agricultura nessas regiões. Quem tem que investir é o produtor ou a iniciativa privada. Hoje se consegue recursos, mas estamos analisando o cenário de 2015 para ver se vale a pena – pontua Chavaglia.

Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), apesar de algumas dificuldades, o produtor está obtendo crédito para armazenagem.

– A maioria está conseguindo acessar. Muitas vezes, as garantias são poucas para que ele possa ter um investimento tão alto. A gente espera que o governo entenda isso, que possa alongar os prazos ou a maneira de construir o limite de crédito, para ter acesso ao custeio e investir em máquinas e armazéns em geral – comenta Bartolomeu Braz Pereira, vice-presidente da Faeg e presidente da Associação dos Produtores de Soja, Milho e Sorgo de Goiás (Aprosoja-GO).

• Aumento de plantas daninhas preocupa produtores do sul de Goiás

No Estado, a capacidade estática é de 13 milhões de toneladas, 5 milhões a menos do que a produção total de grãos. A Faeg reconhece que espaço para guardar o milho é um gargalo que precisa de solução urgente.

– Nas regiões de expansão: noroeste, nordeste, norte, Vale do Araguaia, ainda temos deficiência maior. Nós temos mais de 4 milhões de hectares para ser exploradas, nós já pedimos ao governo para que inserissem nas políticas agrícolas o plano de armazenamento. E foi inserido o PCA (Programa para a Construção e Ampliação de Armazéns). Um modelo interessante – completa Pereira.

O produtor José Oscar Durigan aproveitou o momento e já comercializou 40% do que vai colher. Mesmo com a antecipação dos negócios, ele terá problemas de armazenagem nesta safra. O silo próprio, construído na década de 1990 com recursos próprios, comporta 1,5 milhão de toneladas de grãos.

– A produção é bem maior e o estreitamento de colheita é mais rápido, daí fica o déficit de armazenagem – diz.

Dos 850 hectares, devem ser colhidas, em média, 60 sacas da oleaginosa. Toda a área de Durigan também será usada para o milho de segunda safra, com produção esperada de 130 sacas por hectare. Toda essa produção representa mais de 60% da capacidade de armazenagem da fazenda. Por isso, parte do grão colhido será estocada nos silos bolsa. Serão 25 no total.

• Entenda o papel do refúgio na preservação da tecnologia Bt

Mas, em breve, esse cenário vai mudar. Após três meses de espera, o produtor conseguiu o financiamento para erguer um novo armazém, agora com capacidade para 2 milhões de toneladas. Os R$ 3 milhões serão pagos em até 8 anos.

– Não tinha recurso, as dificuldades são grandes, exigências, juro é caro. Hoje se tornou mais barato, deu mais longo prazo para você diversificar, porque tudo é custo. Você tem que botar na conta o que pode fazer. O produtor precisa disso, é melhor o produtor ter seu produto na mão. Conseguir agregar o melhor preço – enfatiza Durigan.

Safra em Rio Verde segue bem

A Expedição Soja Brasil acompanhou o desenvolvimento do plantio de soja em Rio Verde, no sul de Goiás. A produção deve alcançar 280 mil hectares, mas, nos 13 municípios que compõem a região, a área plantada passa das 430 mil hectares. O atraso provocado pela estiagem de outubro deve reduzir em 40% a segunda safra de milho. Por outro lado, está beneficiando a comercialização da soja. Cerca de 30% da safra já foi comercializada.

– Tá subindo a comercialização. O sol está ajudando nesse lado. Hoje a gente estaria negociando a soja futura em torno de R$ 42, R$ 44 e o balcão também. Com o atraso do plantio, tá elevando um pouco o preço – comenta o vice-presidente do Sindicato Rural de Rio Verde, Luciano Jaime Guimarães.

Clique aqui e veja o vídeo da reportagem.

>>> Veja mais notícias sobre soja